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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Entrevista: Favela Soul


Black music alagoana para todas as cores, credos e opções

Diogo Braz

Eles fizeram um ótimo show na estreia do projeto Outras Ondas e são legítimos representantes dos bairros mais distantes. Conhecida da noite maceioense por seu repertório de versões para sucessos de outros artistas, a banda Favela Soul agradou também com um repertório autoral. Para saber mais um pouco sobre o trabalho e as impressões que eles tiveram do show no Linda Mascarenhas, o Blog do Espaço Cultural Linda Mascarenhas conversou com os vocalistas Jhon Raifer e Nando Rozendo, o Tribo. Tudo e mais um pouco, você também pode saber logo abaixo. Boa leitura!

Favela Soul no palco do Linda Mascarenhas - Foto de Everton Batista


O show da Favela Soul na estreia do projeto Outras Ondas teve uma boa repercussão: casa lotada, elogios do público, muitos aplausos. E para vocês, como foi a experiência, o que acharam do show?
Tribo - Não temos palavras pra descrever o quanto estamos felizes pelo convite do IZP para abrir o Projeto Outras Ondas. A nossa felicidade foi dobrada com a presença de um público que lotou o Linda Mascarenhas. A galera estava num super astral e respondeu com uma energia contagiante do início ao fim. Pra nós, foi um desafio mostrar um repertório fundamentalmente autoral, já que, até então, nosso set list era, em sua maioria, feito de versões. Foi motivador ter essa resposta imediata da plateia, e também ouvir o “burburinho” após a apresentação com as mensagens de felicitações e incentivo que ainda estamos recebendo.

Jhon Raifer - Foi uma experiência extremamente linda e especial. Pra mim, principalmente, porque foi o meu primeiro show com a Favela Soul. Estava muito nervoso, mas depois que nós subimos no palco, a sintonia foi perfeita, parecia que nós já estávamos há um bom tempo na estrada. O público ajudou bastante! O teatro tava lotado! Eles cantaram, dançaram, sorriram e vieram falar conosco depois do show, querendo saber de agenda, contatos, foi incrível!

Jhon Raifer - Foto de Everton Batista


Como vocês enxergam o cenário musical da cidade para o som que vocês fazem? Não existe muita gente fazendo Soul Music autoral aqui em Maceió.
Jhon Raifer - O nosso som é bem distinto do que as outras bandas fazem. As pessoas se importam muito com o que vai vender e não com o que realmente gostam de fazer. É difícil chegar a algum local com suas próprias canções esperando que alguém queira escutá-las. As pessoas estão acostumadas e querem ouvir o que toca nas rádios, mas nós não queremos fazer só isso. Queremos mostrar o que pensamos, o que sentimos, nós temos voz. 

Tribo - Temos uma nova geração de artistas com um trabalho muito interessante em várias vertentes. Além disso, temos um ótimo público, jovem, curioso, querendo ouvir coisa nova e de qualidade. Ainda esbarramos na falta de incentivo para movimentar esse cenário, ver essa galera alternativa ganhar espaço com um trabalho que realmente represente o que nossa cultura tem de melhor, e não ver músicos e grupos tendo que se prostituir musicalmente para poder ver seu trabalho com algum tipo de respaldo em termos financeiros ou de reconhecimento.

Vocês acham que o trabalho que vocês vêm desenvolvendo com o cover atrapalha ou ajuda na formação de público para a música autoral de vocês?
Tribo - Não atrapalha. A gente só toca o que gosta e acaba sendo influência na nossa musicalidade e, consequentemente, tendo relação com nosso trabalho autoral. E também temos o cuidado de dar outra roupagem para as músicas, deixar elas com a nossa cara, e não simplesmente reproduzir. Além de ser prazeroso pra nós tocar músicas que estão na nossa formação musical é interessante a recepção do público para essas músicas conhecidas com uma pegada diferente.

Jhon Raifer - Nós fazemos a MPB (Música Preta Brasileira) e, quando fazemos os covers, estamos mostrando quem são as nossas influências. E o público também gosta disso. Eles querem ouvir algo que também se identificam de uma forma diferente. E essa é a nossa proposta. Não queremos ficar na linha do "mais do mesmo", entende? 

Nando Rozendo a.k.a. Tribo - Foto de Everton Batista

A música de vocês fala muito sobre bandeiras do movimento Black. Como vocês avaliam a sociedade alagoana em relação a essas lutas?
Tribo - Pra nós, é fundamental expressar nosso ponto de vista sobre o que envolve nossas vidas. Nossas músicas tratam de temas do nosso cotidiano e é inevitável falar de temas como desigualdade social, violência, falta de assistência do Estado, coisas que os moradores de bairros periféricos de qualquer lugar estão vivendo no seu dia a dia. A Favela Soul é formada por integrantes que moram em bairros marginalizados, como o Jacintinho, Bebedouro, Feitosa, Colina e que, apesar de formações musicais diversas, temos um ponto em comum, que é a música de origem negra, seja no reggae, hip hop, jazz, funk. Então, é natural que esses temas que são bandeiras do movimento black estejam presentes na nossa música. Mas não se trata apenas da questão do negro, e sim de toda uma massa que está, de alguma forma, sendo privada de direitos básicos e fundamentais para qualquer ser humano. Seja pela cor da pele, classe social, origem étnica, orientação sexual ou opção religiosa. É preciso bem mais que "pão e circo", é preciso ter acesso à educação de qualidade, saúde, moradia digna, emprego, acesso à cultura. Estamos aí pra botar o dedo na ferida.

O que vocês acharam do Projeto?
Jhon Raifer - O projeto é maravilhoso! Está abrindo portas para os artistas da terra que querem mostrar seu talento. Precisamos desse apoio. As pessoas precisam valorizar o que tem aqui. Ninguém imagina, mas temos artistas incríveis que não recebem apoio e nem o valor que merecem. Isso começa pelos próprios amigos que não valorizam, que não apoiam. Sabe, eu tenho, 11 anos de carreira, já fiz vários trabalhos, muitos shows e pode parecer incrível, mas eu conto em poucos dedos de uma mão quantos desses meus "amigos" foram a um show meu. Então a valorização não é apenas da TV, da rádio, dos meios de comunicação em geral, as pessoas tem que rever seus conceitos e aprender a apreciar o quer as pessoas querem dizer. 

E agora, qual será o foco da carreira de vocês, o cover ou o autoral?
Tribo - Nosso foco agora é trabalhar nosso repertório próprio e correr na produção para lançar nosso primeiro álbum. Com esse apoio do IZP as coisas vão se tornar mais fáceis, mas o caminho ainda é longo. Claro que nosso repertório também vai incluir músicas de artistas que são referência pra nós, mas nosso foco agora é o repertório autoral.

Jhon Raifer - Nós queremos continuar mostrando para as pessoas o porquê da Favela estar aqui, queremos continuar mostrando nossas letras, nosso som, a nossa alegria, a nossa raiva, tudo isso em forma de canção. E com certeza continuaremos homenageando – essa é a expressão correta: homenageando – os artistas que nos influenciaram, tocando as suas músicas e, a cada dia, amadurecendo com cada experiência.


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