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terça-feira, 28 de junho de 2011

Entrevista: Lael Correa


Poucas são as vezes em que a expressão “pessoa do teatro” se encaixa tão bem em um artista como em Lael Correa. Do início precoce como ator, aos 13 anos, até os dias de hoje, Lael acumula prêmios e o status de um dos nomes mais questionadores e criativos do teatro alagoano. Entre o corre-corre típico dos que vivem produzindo, aproveitamos para conversar, por e-mail, com Lael Correa, o artista plástico, autor, ator, diretor... homem do teatro, que está em cartaz no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, com o grupo Infinito Enquanto Truque, até o dia 2 de julho, com a peça Uma Dose de Chuva, que tem seu texto e direção. Mesmo estando atarefado com a substituição de uma das atrizes do elenco, Lael respondeu de imediato, revelando ao público um pouco de suas inquietações e reflexões, principalmente sobre o “fazer teatro”. Confira a entrevista:
Ascom IZP Uma Dose de Chuva é inspirada em um texto do dramaturgo estadunidense Tennessee Williams. Como você tomou contato com esse texto e quando você decidiu que escreveria uma peça inspirada nele? Como se deu essa escolha?
Lael Correa - A peça não é “inspirada” em texto de T.W., mas contém, na íntegra, um texto curtíssimo dele. É um texto admirável e entrou em Uma Dose de Chuva como uma das partes de um jogo que eu divido em três tempos, através de três casais. O primeiro deles é formado por personagens de Tennessee Williams (e aparecem no espetáculo através de uma tela enevoada, separando palco e platéia – ou presente e passado, ou mesmo Tennessee e Lael). O segundo casal, pós-moderno, observa essas personagens e as relaciona com seus próprios conflitos. E as peças do jogo se completam com um casal contemporâneo que, da platéia, discute as diversas ‘realidades’.
A escolha dos temas (solidão, incomunicabilidade e “válvulas de escape”) surgiu de modo natural, observando por alguns anos (e ângulos) essa nossa época repleta de virtualidades, consumismo e mentiras globalizadas. Creio que será um assunto pertinente ainda por muito tempo. A reflexão sobre esses assuntos sempre foi recorrente nas artes, mas as novas tecnologias permitem novas abordagens e isso me interessa.
IZP - O texto apresenta um retrato interessante da solidão urbana, quais reflexões ou inquietações você deseja despertar no público com o espetáculo?
Lael - Eu sempre fico impressionado com o poder de proporcionar a reflexão que as artes possuem. Mas fico ainda mais impressionado em ver como esse poder tem sido relegado a um plano secundário no mundo contemporâneo. Creio que a arte só possui valor ou importância quando propõe reflexões e questionamentos. Sem isso, ela torna-se mera distração e diversão banal. E a busca nesse espetáculo, como de resto em tudo a que me proponho em cena, é que o espectador possa ter novos elementos de investigação do seu tempo e de sua sociedade, com a vantagem de que o teatro pode proporcionar a reflexão unindo inteligência e prazer – isso se estende desde conhecer autores importantes como Tennesses Williamas, ouvir a bela música de Miles Davis na trilha sonora ou curtir alguns momentos bem humorados do “drama”.
IZP - Uma reflexão que eu achei clara foi sobre o próprio teatro. Em alguns momentos, a peça parece mostrar como o teatro pode despertar a atenção do público para temas importantes para o espírito humano, como a solidão, o vazio, a insensibilidade... Pra você, qual é o papel do teatro nessa discussão?
Lael - Sendo o teatro uma arte que só se realiza “ao vivo”, ele permite uma conexão com o espectador muito mais clara e intensa do que qualquer outro veículo de comunicação. Mas esta conexão só se estabelece através da verdade: a verdade do autor, do diretor, do ator. E, por melhor que seja o truque do palco, ele é sempre revelador e sempre se revela. Portanto, é muito comum ver o teatro discutindo o próprio teatro, refletindo o fazer teatral e mostrando as “cartas na manga”, até mesmo para reforçar e fazer valer a discussão proposta pela peça. Essa discussão (ou discurso) é sempre mais importante e é necessário que seja inteiramente verdadeiro. E claro que o trabalho de um dramaturgo ou um ator não pode ser verdadeiro quando ele está apenas tentando ser engraçadinho, bonitinho ou melodramático. Mas, será verdadeiro quando, usando a máscara dramática ou cômica, estiver refletindo a alma do homem, do seu tempo e de sua sociedade. Este é sempre o papel do teatro, em todas as épocas.
IZP - Você acha que o teatro, em geral, tem perdido esse poder de ser inovador, de instigar a reflexão? Como você avalia a atual produção do teatro alagoano nesse sentido?
Lael - O teatro, como tudo, vive ciclos que se renovam e, muitas vezes, se repetem. Há, em todos os lugares do mundo, constantes transformações sociais, políticas, econômicas, etc. Por que seria diferente com as artes? No entanto, há rituais milenares que perduram até nossos dias e foram minimamente alterados. E isso é ainda mais verdadeiro quanto mais antigo for o rito, quer seja religioso, filosófico ou artístico. O teatro é uma arte muito antiga que consegue manter suas premissas originais praticamente inalteradas ou, pelo menos, teve uma evolução que não o descaracterizou – principalmente no que se refere a ser um ritual vivo, que vai além de reunir pessoas, pois proporciona a comunhão de idéias, a fruição do prazer estético, o exercício da sensibilidade e da inteligência. Pra mim, esses princípios são quase religiosos! (risos).  Pode ser que eu não os alcance, mas é o que busco. Mas, também acredito que isso não é o que, no momento, esteja sendo buscado pela maioria dos artistas de teatro. Pelo contrário, está rolando uma inversão de valores tão babaca que, neste ciclo atual, o teatro às vezes se torna vazio e desnecessário. Em geral, está muito mais ocupado com comédias repletas de clichês do que com qualquer coisa que mereça o nome de arte. São peças fáceis, estritamente comerciais, sem criatividade alguma. E a coisa fica ainda mais tediosa e burra quando vemos artistas, às vezes até muito talentosos, acreditando que “o povo quer apenas rir, ver luxo, celebridade e bobagem”. Daí que, mesmo em Alagoas, a “receita preferida” de muitos atores tem sido essa: “uma pitada de elegância, alguns quilos de palavrão e toneladas de piadas da TV ou da internet”. E com tais ingredientes, encenam espetáculos “de vida fácil”, fazem michês artísticos que sequer merecem uma crítica, não valem a pena e nem a tinta e nem o tempo. Por outro lado, Maceió tem alguns artistas jovens que começam a produzir coisas muito boas e importantes. E entre os veteranos há os que sempre merecem a atenção quando ocupam os palcos locais: atores como José Márcio Passos, Otávio Cabral e Ronaldo de Andrade, que servem de exemplo e inspiração. Então, Alagoas não está tão mal na fita. Certamente o foco será ajustado no próximo ciclo. Senão, vamos acabar acreditando que a melhor saída para o artista alagoano é o Aeroporto Zumbi dos Palmares! (risos)
IZP - Pode-se observar que, dos três pares da peça, dois também são espectadores, assim como o público. Como é que aconteceu o processo criativo da peça até você chegar a esse formato cheio de camadas?
Lael - A idéia inicial era que os casais tivessem orientações sexuais distintas: heterossexual, bissexual e homossexual. Seria a ampliação da discussão sobre relacionamentos, solidão, etc.. Mas, à medida que a montagem evoluía, as “camadas” habitadas por esses casais ficavam mais significativas do que suas opções sexuais. Aliás, a questão sexual revelou-se inteiramente desimportante. As idades das personagens também e também seus níveis sócio-econômicos; nada disso era importante, pois o tema era outro. Ele estava centrado nas incomunicabilidades e ansiedades que podem se instalar em qualquer classe, idade ou sexo. O que fazia a diferença eram os níveis de discussão e é isso que ressaltamos no espetáculo ao estabelecer “camadas” de leituras distintas.
IZP - Como se deu a escolha do elenco e como é trabalhar com esses atores e com a equipe técnica? Pude perceber que é um grupo de maioria jovem e bastante profissional.
Lael - Embora eu tenha mantido o Infinito Enquanto Truque com um elenco estável por mais de dez anos, atualmente eu evito os elencos fixos por mais de um espetáculo. Há vários anos as atrizes Monica Dogati e Dinah Ferreira (que participam apenas como produtoras em Uma Dose de Chuva) e o iluminador Edner Careca trabalham comigo, mas são exceções. O elenco da peça foi escolhido por simpatia, intuição e demorada observação dos passos de cada um deles pelos palcos locais. Pude vê-los atuando em algumas ocasiões e pudemos trocar muitas informações. Antes de iniciarmos o projeto de montagem, já havíamos iniciado uma relação de amizade e isto não é fácil e nem é sorte; é uma escolha e uma conquista. Especialmente no teatro, diferente da maioria das artes, é fundamental que haja intimidade e diversidade num elenco. Modos diferentes de pensar o mundo e a arte. Porque o teatro é dialógico, precisa de feed back desde os primeiros ensaios e alimenta-se desses olhares distintos. E o elenco de Uma Dose de Chuva possui esses diferentes olhares até mesmo nas características externas, pois reúne atores de 20 anos e de 56 anos de idade; um iluminador quarentão e uma sonoplasta com pouco mais de 20 anos; um ator que mora na periferia e uma atriz que mora em apê com vista pro mar; um cara que é funcionário público e uma garota que é jornalista-fotográfica. E cada um deles com um modo de sentir, atuar e viver muito peculiar. Afinal, mesmo no teatro, é a realidade, com suas várias camadas e diferentes leituras, que determina e harmoniza os modos artísticos da reflexão. Nas minhas encenações isso é muito importante.
IZP - Qual a importância de se fazer uma temporada para um espetáculo de teatro e como você avalia a temporada de Uma Dose de Chuva até agora?
Lael - A temporada é vital para o exercício teatral.  Não que o dia da estréia seja melhor ou pior que o dia da última apresentação do espetáculo. Não se trata de importância do tempo para a qualidade da obra, pois peça de teatro não é uísque e nem peça de museu. Mas, é com as diferentes platéias, circunstâncias e reapresentações que o ator pode lapidar a sua arte, dividindo com o público uma criação que é viva, que se modifica e se enriquece permanentemente. Essa riqueza o ator não guarda em cofres, mas ele a divide com seus espectadores. Além disso, os custos de produção de teatro são muitos altos e o tempo de montagem é longo; portanto, não podemos nos dar ao luxo de fazer meia dúzia de exibições e sair de cena. Mas, em Maceió há alguns administradores de espaços culturais públicos que se sensibilizam com essa questão e viabilizam parcerias para efetivar temporadas de espetáculos. Uma Dose De Chuva é uma desses sortudos espetáculos e conseguiu o apoio do Espaço Linda Mascarenhas (IZP) para fazer sua primeira temporada. Se pensarmos friamente, dois meses em cartaz não é um tempo respeitável de temporada para uma peça, mas em Alagoas isso é uma proeza!
Já faz um bom tempo que não comento sobre as dificuldades em se produzir arte em Alagoas e continuarei a não comentar. Não creio em reclamações e não creio em nenhuma das instituições públicas ou privadas de arte e cultura em Alagoas. Mas, creio em pessoas. Creio em alguns indivíduos que, por algum período, ocupam cargos importantes na área cultural e que, por realmente gostarem de arte, muitas vezes colaboram para minimizar o desdém com que a arte sempre foi tratada nesse estado. O IZP tem sido um parceiro importante nos projetos do Infinito Enquanto Truque. É claro que, sem a atenção e empenho de pessoas como Jr Almeida e do Marcelos Sandes, essa parceria não existiria. Mas, como eu já disse, felizmente existem nas instituições alguns indivíduos que realmente gostam e trabalham pelas artes. 
IZP - Quais são os planos para Uma Dose de Chuva?
Lael - A temporada no Espaço Linda termina no dia 02 de julho e não há previsões de uma nova temporada e nem sequer de alguma exibição avulsa do espetáculo. Mas esse é o destino de quase todo espetáculo de Maceió. Com sorte (muita!) conseguiremos algumas apresentações em cidades do interior e depois (se tivermos ainda mais sorte!) conseguiremos participar de algum festival nacional de teatro em algum estado próximo. Mas as coisas sempre foram tão difíceis por aqui que já chegamos a recusar convites para participar de festivais nacionais por não conseguirmos que as instituições locais de cultura disponibilizassem as passagens para o elenco poder viajar. Em sendo assim, Uma Dose de Chuva vai esperar que passe a temporada, o temporal e o inverno. No verão, veremos.
*Foto: arquivo pessoal

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Temporada do Espetáculo "Uma Dose de Chuva"


Uma dose de bom Teatro: Infinito Enquanto Truque desperta reflexões sobre um mundo cada vez mais virtual e solitário

Diogo Braz

As luzes se apagam dissipando os sussurros da plateia, o som do trompete de Miles Davis anuncia o início do espetáculo. É o momento de esquecer tudo e mergulhar na magia do teatro. É com esse universo que Lael Correa parece realmente se misturar. Na peça Uma Dose de Chuva, que está em temporada no Espaço Cultural Linda Mascarenhas até dois de julho, pode-se perceber algumas das reflexões e inquietações criativas do artista plástico, ator, autor e diretor. No comando do grupo Infinito Enquanto Truque, Lael acerta a mão em um texto que traz um belo e angustiado retrato da solidão humana, urbano e quase atemporal; um olhar em três ângulos sobre as dificuldades de relacionamento e comunicação de três pares de pessoas, como se aquele universo do teatro estivesse agora separado em três camadas de leituras distintas.
Na primeira, as personagens dão vida a excertos do texto da peça Fala Comigo Como a Chuva... E Deixa-me Ouvir, do dramaturgo estadunidense Tennessee Williams. Os atores Cid Brasil e Paula Gomes ficam encobertos por uma tela enevoada do cenário, um recurso inteligente para separá-los e estabelecê-los numa época passada.



A segunda camada é povoada por um casal pós-moderno de atores, interpretado por Larissa Fontes e Bruno Alves. Esse casal observa as personagens de Tennessee Williams e as relaciona com seus próprios conflitos, e é aí que o texto de Lael começa a pisar nos calos do espírito humano. A dificuldade de se comunicar com os semelhantes é muito bem trabalhada, ao ponto do espectador não identificar de imediato se aquelas pessoas estão ligadas por amor ou ódio. Os sentimentos de solidão e vazio parecem gritar nos diálogos, que tratam da virtualidade dos tempos atuais, da busca por sentidos nas coisas ao redor e principalmente sobre a capacidade de se relacionar com as pessoas e com o mundo.
Na terceira, Lael consegue que o mergulho nos universos propostos pela peça seja completo, ao colocar os “espectatores” Guga Gomes e Ticiane Simões no nível da plateia, discutindo as realidades apresentadas e interagindo com os espectadores. Nessa instância, as discussões são ainda mais próximas do público, analisam o teatro e o próprio texto da peça, falam sobre acontecimentos recentes, sobre como a rotina e um mundo cada vez mais globalizado e informatizado vêm apagando a sensibilidade das pessoas. O diálogo desse par é permeado por ironias e provocações, até que as afinidades vão alinhando os discursos e as máscaras de humor vão caindo e revelando pessoas absorvidas pelos mesmos conflitos das outras personagens.
Todos os atores estão muito bem e conseguem dar a dimensão exata para as questões da peça, sem exageros, evoluindo com o texto, numa fluidez que se assemelha à chuva que escorre nas janelas de Tennessee Williams e de Lael Correa. “O elenco da peça foi escolhido por simpatia, intuição e demorada observação. Antes de iniciarmos o projeto de montagem, já havíamos iniciado uma relação de amizade e isto não é fácil e nem é sorte, é uma escolha e uma conquista. Especialmente no teatro, é fundamental que haja diversidade num elenco, modos diferentes de pensar o mundo e a arte. O elenco de Uma Dose de Chuva possui esses diferentes olhares, cada um deles com um modo de sentir, atuar e viver muito peculiar. Afinal, mesmo no teatro, é a realidade, com suas várias camadas e diferentes leituras, que determina e harmoniza os modos artísticos da reflexão. Nas minhas encenações isso é muito importante”, avalia Lael.




Para a atriz Larissa Fontes, o entrosamento entre a equipe da peça propicia o bom resultado no palco. “Trabalhar com o Lael é, acima de tudo, uma grande oportunidade de aprendizado e crescimento. O clima entre os atores do espetáculo é de muita brincadeira. Alguns deles já vêm comigo desde a Escola Técnica de Artes da UFAL. Todos são apaixonados pela peça, o que torna tudo melhor”. Ela também explica o processo de criação das personagens e avalia como elas têm tocado o público que tem assistido à peça. “Desde o meio do ano passado, nos encontrávamos mais ou menos uma vez por semana na casa do Lael para ler e discutir o texto. Foi um período em que nós, atores, buscávamos diversas referências, desde pessoas reais até filmes, livros e músicas. As pessoas têm se identificado muito com o texto. As personagens dizem coisas que vêm muito a calhar hoje em dia na vida de qualquer pessoa. Espectadores de todas as idades estão vindo conversar com a gente e a resposta não poderia ser melhor. Estamos tocando as pessoas, emocionando, fazendo com que se questionem. Em Uma Dose de Chuva elas se veem obrigadas a olhar para dentro de si e enfrentar o que encontram lá. É muito do que a gente já queria: tocar as pessoas”.




Uma Dose de Chuva propõe mais que uma reflexão sobre a solidão, mas também uma reflexão sobre o próprio teatro. São vários os momentos em que algum dos “espectatores” solta frases como “Isso é o teatro contemporâneo, foram abolir as cortinas...” E as sentenças convidam o público a se sentir parte do espetáculo e parecem reafirmar que não há ali divisão entre palco e plateia: o próprio público também desempenha um papel na peça. “É muito comum ver o teatro discutindo o próprio teatro, refletindo o fazer teatral e mostrando as ‘cartas na manga’, até mesmo para reforçar e fazer valer a discussão proposta pela peça. Eu sempre fico impressionado com o poder de proporcionar a reflexão que as artes possuem, mas fico ainda mais impressionado em ver como esse poder tem sido relegado a um plano secundário no mundo contemporâneo. Creio que a arte só possui valor ou importância quando propõe reflexões e questionamentos. Sem isso, ela torna-se mera distração e diversão banal”, analisa Lael.
Essa preocupação em despertar a reflexão do público para temas que reflitam a alma do homem, do seu tempo e de sua sociedade tem sido recompensada pelo público, que tem comparecido ao Espaço Cultural Linda Mascarenhas para aplaudir o espetáculo, que ainda tem futuro incerto. “Todos nós torcemos para que a peça tenha muitas temporadas de vida. Ela só tende a crescer”, espera Larissa. “Não há previsões de uma nova temporada e nem sequer de alguma exibição avulsa do espetáculo, mas esse é o destino de quase todo espetáculo em Maceió. Com sorte, conseguiremos algumas apresentações em cidades do interior”, lamenta Lael.
Sendo assim, por ora, restam poucas oportunidades para o público conferir Uma Dose de Chuva e mergulhar no denso universo de Lael Correa, Tennessee Williams e Infinito Enquanto Truque. Aproveite! Em temporada aos sábados, até dia 02 de julho, sempre às 20 horas, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas. Vale a pena!


Fotos: IET (divulgação), Diogo Braz e Ascom Teatro Deodoro

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Gustavo Gomes lança "De Xameguinho com a sanfona"


Gustavo Gomes e Xameguinho homenageiam a sanfona em noite repleta de nordestinidade.

Diogo Braz

Gustavo Gomes é uma figura carismática e inquieta, seu amplo raio de ação artística é uma prova disso. Já habituado aos palcos do teatro e às câmeras de cinema, parece se sentir ainda mais à vontade na música. Compositor que não se prende a um estilo, ele encontra nessa versatilidade a sua maneira de fazer música. Mais uma faceta de sua produção foi apresentada ao público, na última noite de maio, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, durante o show de lançamento do seu mais novo disco “De Xameguinho com a sanfona”, onde ele faz uma homenagem ao sanfoneiro alagoano Xameguinho, que participou de todo o disco e também do show.
            Gustavo faz questão de frisar que não se trata de um disco de Forró, mas um disco de composições para sanfona, que passa pelo Forró e outras vertentes da música brasileira. No palco, ele falou sobre a relação do nordestino com a sonoridade do instrumento, enquanto Xameguinho acendia na memória afetiva do público a paixão pelo som da sanfona, acompanhado por Van Silva no baixo, Naldo na zabumba, Guga Max no triângulo, mais o trio feminino de backing vocals Kíssia Barros, Karine Moura e Rosa Prédes, a esposa de Gustavo Gomes.



            O show começou com “Forrofiado”, composição de Gustavo e Anderson Fidelis, que também abre o disco, um forró animado, ideal para dançar nos “arraiás”. Generoso, abriu espaço para suas vocalistas soltarem a voz. “O Guga é uma figura, fico muito feliz em participar desse projeto. Eu pensei que ia fazer só uma participação no disco, mas ele me convidou também pra cantar no show. Foi muito legal da parte dele”, afirmou Karine Moura. Quando foi cantar uma canção de Luiz Gonzaga, Gustavo ponderou, “cantar o maior compositor desse negócio aqui (Forró) é muita areia pra quem nem caminhão tem, como eu... Mas a gente leva na caixinha de fósforo”, abrindo sorrisos no público, que aplaudia ao final de cada canção.
Os parceiros no trabalho foram devidamente homenageados no show, como os poetas Marcos de Farias Costa e Ricardo Cabús; o artista Rodrigues, autor de lindos desenhos expostos no hall do Linda Mascarenhas; e o maior homenageado da noite: Xameguinho. O sanfoneiro é uma unanimidade entre os apreciadores do instrumento, do público ao palco só se ouviam elogios sobre suas habilidades. Figura modesta e sorridente, Xameguinho se disse surpreso com a homenagem. “É muito bom receber uma homenagem dessa, é um reconhecimento do trabalho, não é? Primeiramente, eu agradeço a Deus, pois Ele que me deu a vida pra eu poder tocar sanfona. Eu não sabia que o Gustavo ia levar esse trabalho pros palcos. Quando ele me chamou pra gravar o disco, eu pensei que era pra fazer só uma participação, e nem sabia que as fotos que eu tirei com ele iam ser a capa do disco. Eu fico muito satisfeito em ter participado desse disco, que é um trabalho diferente; as músicas têm um estilo que as pessoas não estão muito acostumadas a ver por aí. Foi muito bom trabalhar a sanfona pra essas músicas”, analisou o sanfoneiro.



            O público também parece ter gostado das composições, inclusive pedindo bis. O músico Gabriel Cerqueira, que estava lá conferindo o show, aprovou. “É prazeroso ver o Guga cantando, a sinceridade dele é muito evidente. Ele tem uma produção muito diversificada, trabalha do instrumental ao samba, mas tudo tem a cara dele, justamente porque ele se entrega com essa sinceridade que a gente percebe, também, no palco”. E Gustavo explica o motivo dessa pluralidade. “É na música onde eu me sinto livre. Eu me atrevo mesmo a fazer de tudo e de vez em quando acerto uma”, afirmou.
            Homem do teatro, Gustavo explica como nasceu a ideia do disco, um pouco inspirado na arte de representar. “O disco surgiu como uma peça. Eu tinha sete músicas, cada uma como uma dramatização; eu havia pensado nelas assim, como partes de um musical. Quando eu percebi, eu estava quase com o material pra um disco inteiro”. Daí, Gustavo não teve dúvidas ao escolher Xameguinho pra dar vida à sanfona, e transformar o disco numa homenagem ao músico. “Xameguinho é o cara! Isso tem de se reconhecer. Ele manja tudo de sanfona e é nosso (de Alagoas). Se fosse com outro sanfoneiro, o disco poderia ter ficado bom também, mas tinha de ser com ele. Xameguinho tem essa pegada nordestinamente brasileira, é inconfundível, merece a homenagem”.
            Para Gustavo Gomes, o show teve sabor de celebração, com direito a mugunzá e outras delícias juninas para a plateia, ao final da apresentação. “Isso aqui, pra mim, é uma grande festa. Meu aniversário é no dia 17 e eu já estou comemorando aqui com o público, com os meus amigos. Dia 16 vai haver outra festa, na tenda cultural da UFAL, e depois disso, estou aberto a convites para levar esse show para outros lugares. Quero muito sair por aí com ele, é um trabalho que me dá muita alegria”. Alegria essa que pode ser sentida e compartilhada com quem esteve presente no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, numa noite em que a sanfona falou mais alto e lembrou, de uma forma nordestinamente especial, que a sonoridade desse instrumento está guardada nas raízes do brasileiro.


* Fotos de Larissa Fontes