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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Palavra Mínima Júlio Uçá e Luciano José

Clima de amizade tempera a apresentação de Júlio Uçá e Luciano José no Palavra Mínima

Diogo Braz

A arte une, as parcerias estão aí para darem seus testemunhos. É comum ver pessoas com aptidões criativas se unirem para fazer um trabalho artístico, e o Palavra Mínima tem proporcionado encontros desse tipo nas noites de sexta no Espaço Cultural Linda Mascarenhas. Realizado pelo Instituto Zumbi dos Palmares e Cooperativa dos Músicos de Alagoas, o projeto tem o apoio de Secult, FMAC, Sebrae, Mucom e Santorégano, e propões trazer a poesia e a música como uma só expressão. Desta vez, os protagonistas da noite de 9 de dezembro foram os amigos Júlio Uçá e Luciano José. O primeiro responsável pela música e o segundo pela poesia.
Os dois se conhecem há mais de 15 anos. Júlio morava na cidade de Palmeira dos Índios e se mudou para Maceió, enquanto Luciano fez o caminho inverso e hoje mora em Palmeira. O que pode parecer um desencontro os tornou ainda mais próximos: Na sua nova cidade, Luciano casou-se com a prima de Júlio e os artistas então passaram a ser da mesma família. A afinidade e a convivência acabaram por facilitar as parcerias e os projetos em conjunto. Apresentações como esta do Palavra Mínima já haviam acontecido na carreira deles. “Esses nossos encontros, antes de serem encontros pessoais, são encontros de admiradores mesmo: Eu gosto muito do que Júlio produz e ele também gosta do que eu produzo”, explica o poeta, enquanto o cantor completa: “Mas como dizia Toquinho: ‘Se não der pra ser amigo, não tem como ser parceiro’. Graças a Deus eu estou aqui com o Luciano e isto foi uma coisa muito natural, a gente teve a oportunidade de fazer outras coisas dessa natureza e vem sendo melhor a cada vez”, explica.


Amigos entre amigos - Foto de Diogo Braz

A música feita por Júlio tem forte apelo pop, com melodias que grudam em sua cabeça por dias. Conhecido na cidade por suas participações em festivais musicais e por suas apresentações em bares de Maceió, no estilo “voz e violão”, Júlio fez um show intimista e descontraído. Conversou com a plateia, falou sobre as suas canções e cantou com visível alegria, acostumado ao formato, parecia estar na sala de casa, mostrando as composições aos amigos. Ao final da apresentação, o cantor avaliou a sua participação. “Eu tive uma impressão muito positiva do show. Acho que a gente pode mostrar hoje música e poesia como uma mesma expressão e o público compreendeu bem isso. Eu fico feliz por ter participado, só tenho mesmo a agradecer”.


Walter Lima e Júlio Uçá - Foto de Diogo Braz

No palco, Júlio Uçá conta com o auxílio luxuoso do músico Walter Lima, no violão de aço. Os arranjos para dois violões caíram bem em todas as canções, os solos e riffs de Walter não deixaram o público sentir falta de outros instrumentos. Aproveitando a ocasião, o cantor mostrou algumas músicas que vão fazer parte do seu primeiro CD, já em fase de preparação. “O disco está praticamente pronto. Estamos finalizando a captação de voz e instrumentos, pra depois mandar mixar e masterizar. Mas depois do carnaval eu posso assegurar que ele vai estar quentinho, saindo do forno”, adianta o cantor. “A maioria das músicas que eu apresentei hoje, cerca de 70%, já são do disco novo. Algumas músicas dos shows antigos e que são mais conhecidas, como Descolorar e Cabelo de mola, não vão entrar. O disco vai trazer muitas novidades e parte dessas novidades a gente mostrou aqui hoje”, revela Júlio.
Luciano José é um poeta de versos curtos e rasgantes, através das palavras mostra sua visão contundente do mundo. Ele mesmo explicou a sua poesia: “Eu definiria minha produção como um olhar poético no cotidiano. É uma poesia muito livre, totalmente desencanada; Esse último livro que eu fiz é um livro muito largado, descompromissado. É isso, a minha literatura é totalmente diferente da literatura, por exemplo, de um João Cabral de Melo Neto. Aqui você não vai encontrar a ‘poesia cabeça’, você vai encontrar coisa como ‘Recado. Na fila do posto de saúde, a saúde mandou lembranças’, é isso!”, explica o poeta.


Luciano José e sua poesia livre - Foto de Diogo Braz

 Também à vontade no palco, declamou suas poesias sobre a vida e emocionou toda a plateia com seu mais recente poema, um tipo de autoanálise sob a ótica de sua recém-falecida mãe. O poeta selecionou textos que tinham a ver com as canções de seu amigo Júlio Uçá e ambas – poesia e música – serviram como tempero uma da outra, dando uma dinâmica interessante ao espetáculo.  “Pra mim foi interessante porque eu sempre pensei, nesse tempo em que venho fazendo lançamento dos meus livros, em trazer a música para dialogar com a literatura, sem que a literatura perca o seu sentido e sem que a música surja como uma espécie de bengala para a literatura, um ponto de apoio. O Palavra Mínima tem esse mérito de conjugar as duas artes sem o prejuízo de nenhuma das duas. Eu acho que esse momento de interação entre elas e essa possibilidade das duas dialogarem livremente é o ponto positivo do projeto”, elogia o poeta.
Cosme Rogério, outro amigo da dupla, também participou do show, declamando algumas poesias de Luciano José. A voz de locutor e a boa interpretação dos textos fizeram com que a participação de Cosme enriquecesse o espetáculo. “Eu fui aluno do poeta e professor Luciano José e sou amigo de infância de Júlio Uçá, então unimos o útil ao agradável. Eles gostam da maneira que eu declamo e eu tive a honra de participar com eles desta noite, nesse projeto que eu considero importantíssimo para a cultura alagoana, pela oportunidade de mostrar o trabalho de autores diversos, seja na música ou na poesia”, avalia.
O público aprovou o desempenho de Júlio e Luciano. A estudante de Direito Flaviana Azevedo se disse uma admiradora da dupla. “Eu sempre gosto dos eventos em que Júlio participa; sempre que possível, eu estou dentro. Para mim, ele é um grande músico e poeta. Eu também já conhecia o trabalho do Luciano, já tive o prazer de ver o trabalho de Luciano em Palmeira (dos Índios) e também aqui (em Maceió) no Teatro Jofre Soares, e acho muito legal a poesia dele. Eu adoro poesia, adoro arte e acho que Alagoas é muito carente disso; parabéns ao projeto”, elogiou a estudante.
Numa noite descontraída, ao som de palavras musicais e poéticas, o Palavra Mínima vai chegando ao final da sua trajetória, mostrando a amizade das palavras com a música e com a poesia. Faltando um show para o final, o projeto vem fechando o ano com saldo positivo.

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