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sábado, 17 de dezembro de 2011

Palavra Mínima: Irina Costa e Gabriela Costa

Música e poesia falam da guerra e esperança em noite cheia de emoção

Diogo Braz

O folheto dizia que “a palavra de ordem era fugir”, descrevendo um tempo passado onde o horror da guerra assolava famílias e as faziam partir da terra onde nasceram e criaram raízes. Hoje, em outro solo, Gabriela e Irina Costa fazem da arte a sua palavra de ordem... E não se tem como fugir da arte!
No dia 25 de novembro de 2011, o Instituto Zumbi dos Palmares e a Comusa – com o apoio de Secult, FMAC, Sebrae, Mucom e Santorégano – realizaram no Espaço Cultural Linda Mascarenhas mais uma etapa do projeto Palavra Mínima, trazendo dessa vez o espetáculo Humbiumbi, com a poesia da matriarca Gabriela Costa e a música de sua filha Irina Costa.


Mãe e filha emocionam plateia com seu Humbiumbi - Foto de Diogo Braz

O espetáculo teve a proposta de contar, através da arte, a emocionante história de vida de Gabriela Costa e sua família. Vítimas da guerra que assombrou Angola, os integrantes da família Costa cruzaram o Atlântico para achar um novo lar em Maceió, mas as lembranças de um passado marcado pela guerra ainda são fortes e, transpostas para textos e músicas, deram uma dimensão mais profunda ao espetáculo, que foi dividido em quatro partes (Era uma vez a vida; Sobre as águas da memória atlântica; Guerra; e Começar de novo), mas preservou o mesmo clima durante toda a sua duração. Além disso, a clara satisfação de mãe e filha em dividirem o palco deu um brilho a mais ao show. Irina elogiou a estreia da mãe nos palcos “Foi uma experiência impressionante e ela demonstrou mais uma vez ser uma grande mulher, pois ela não tinha enfrentado o palco dessa maneira, mas ela reinou ali. E ter ela ao meu lado no palco foi ótimo, foi a obra completa, como ela mesma diz”, falou.
Irina Costa tem uma voz reconhecida e elogiada no meio musical da cidade. A cantora tem forte expressão no palco, suas interpretações cativam pela emoção e o tempero lusitano no timbre da voz e pronúncia das palavras: talvez por isso se destaque entre as cantoras de fado do estado. E a parcela musical de Humbiumbi seguiu esse clima lusitano, com alguns elementos africanos. Acompanhada pelos ótimos músicos Wilbert Fialho (violão e direção musical), Juliano Gomes (teclado) e Wilson Miranda (percussão), Irina cantou um repertório mais calmo, canções que estavam ligadas às experiências vividas pela família nessa fuga em busca de novos horizontes. “Nós tínhamos um repertório base e mamãe é que escolheu, entre aquilo que eu mostrei, as músicas que tivessem a ver com o texto dela e algumas vezes ela misturou o texto para combinar com as músicas que ela queria que eu cantasse. E lógico, tudo tem a ver com a nossa história, tem a ver com a guerra, com o contexto do espetáculo”, revelou Irina.


Irina Costa e sua interpretação carregada de emoção - Foto de  Diogo Braz

O desempenho da cantora foi aprovado por uma plateia formada por gente como a cantora Fernanda Guimarães, que elogiou: “Eu acho que a Irina captou maravilhosamente bem a emoção que foi essa transição, essa mudança de nação, essas idas e vindas de Angola e Brasil, conseguindo emocionar a todos, com as músicas escolhidas, que foram perfeitas, com os poemas; eu mesma chorei duas vezes durante o show e me emocionei várias vezes. O show foi lindo, eu espero que tenha novamente pra mais gente poder ver e mais gente poder compartilhar com elas essa alegria”, torce Fernanda.
A pitada literária da noite ficou por conta de textos poéticos de Gabriela Costa e poesias de Maurício de Macedo, Ascenso Ferreira, Antônio Neto, Fernando Fiúza e João Apolinário. Eram textos que falavam dessa experiência emocional forte da fuga, da saudade, do medo, da esperança, da vida. Em alguns momentos a emoção era visível nos olhos de mãe e filha, o que conectou a plateia às duas durante todo o tempo do espetáculo. Para a professora universitária Eliana Kefalas essas experiências deram origem a um espetáculo para se guardar na memória. “Eu achei fantástico, extremamente sensível, o texto da professora Gabriela é incrível, eu já tinha conversado com ela sobre isso, mas uma coisa é ‘falar sobre’ e outra coisa é ‘ouvir as palavras’... E a elaboração do trabalho como um todo foi bastante sofisticada e inesquecível. Estão de parabéns”, elogiou. A escritora Gabriela Costa explicou a emoção de transpor a sua história de vida para os palcos. “O engraçado é que, durante os ensaios, em nenhum momento eu me emocionei, mas hoje quando vi o público meu coração apertou mesmo, quando falei da guerra, da sensação de ter de fugir o tempo todo, de pegar qualquer coisa no meio da noite e mudar de casa... realmente mexeu comigo ao falar sobre essas coisas em frente ao público. Mas no fim creio que deu tudo certo”, analisa.


Gabriela Costa e sua emocionante busca por esperança - Foto de Diogo Braz

Para a cantora Carolina Leopardi, o show ofereceu boas emoções ao público. “Foi um show lindo, emocionante. Eu fico muito feliz por ter assistido. Todo o espetáculo teve muita delicadeza e sensibilidade. Está tudo muito bem medido e ensaiado, mas ao mesmo tempo espontâneo, dá pra ver que é uma coisa que vem do coração, então faz com que todo mundo que assista fique feliz de certa maneira”. A enfermeira Maria Emília Dantas também aprovou o espetáculo. “Eu achei o show maravilhoso, as duas estão de parabéns. Até mesmo para quem já conhecia um pouco da história de vida das duas, foi muito interessante vê-la ser contada assim nos palcos, com essa mistura de música e poesia. Foi um show lindo, muito emocionante, foi maravilhoso”, avalia Emília.


Celebração ao final do show - Foto de Diogo Braz

O espetáculo, que teve direção artística do ator Carlos Alberto Barros, contou ainda com interações teatrais de Gustavo Gomes e Larissa Fontes, ambos trazendo ótimas interpretações dos textos e poesias. A participação dos atores ajudou a passar para o público um pouco da experiência dessas duas mulheres. Na voz e expressões de Larissa e Gustavo, os textos ganharam cores mais fortes, mais percebíveis ao público, somando mais emoção a Humbiumbi. Além disso, houve também a participação do grupo Baque Alagoano, fechando o show numa celebração a essa história de esperança, de superação, como uma homenagem aos ancestrais e um sopro de alegria para o futuro.  

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