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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Leshjae apresenta Vurma

Cultura cigana é destaque em espetáculo de dança no Linda Mascarenhas

Diogo Braz

                Às vezes, um simples gesto é capaz de guardar muita informação em si. Ao observar um número de dança, não se deve levar em conta somente os movimentos coreografados, a sincronia com a música. A plasticidade dos gestos é encantadora, ainda mais quando é uma forma de expressar uma cultura, a história e os costumes de um povo. No dia 10 de dezembro, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, o grupo Leshjae realizou, com apoio do Instituto Zumbi dos Palmares, o espetáculo Vurma, justamente com a missão de desmitificar um pouco a cultura cigana, uma cultura milenar que ainda resiste, forte, em um mundo que insiste em lhe enxergar sob o véu do preconceito.
                O Leshjae tem quatro anos de existência e baseia suas atividades nos costumes e tradições ciganas, uma forma de conscientizar o público geral sobre esse povo. “O preconceito ainda é grande. Pra se ter ideia, tem gente que acha que não existe cigano em Alagoas. Então a gente veio aqui mostrar que existe e com uma cultura única, que tem mais de cinco mil anos de história, então não mostrar isso para as pessoas, seria um erro brutal. Sem falar que a arte é uma boa maneira de combater o preconceito”, explica Ruiter Djurdjevjch, membro do grupo Leshjae.


Leshjae posa ao final do espetáculo - Foto de Diogo Braz

Por meio da dança, o Leshjae consegue dar uma boa amostra de manifestações culturais, como vestimenta, música, folclore, tradições sociais... Em Vurma – que significa “Sinais”, na língua cigana – , o grupo levou a plateia a uma viagem pelas danças dos ciganos da Europa, África, Ásia e seu reflexo cultural nos ciganos brasileiros. Dividido em números, que mostravam a dança característica de cada país, pode-se perceber a grande amplitude da cultura cigana e o seu compartilhamento por ciganos ao redor do mundo. Todos os dançarinos mostraram boa desenvoltura no palco, arrancando aplausos da plateia ao final de cada número. A dançarina Anne Djurdjevjch explica como se deu o processo de criação de Vurma. “Esse espetáculo é um sonho. A gente sempre quis, através da dança, contar a história desde a Índia até chegar aqui no Brasil. Então a gente começou a fazer um grande trabalho de pesquisa e fomos montando as coreografias aos poucos, mostrando aos poucos, e a gente foi percebendo que tinha uma aceitação, que era um trabalho diferente e que no final nos deu muito orgulho”, analisa.


Música ao vivo deu mais brilho ao espetáculo - Foto de Diogo Braz

O grupo também desenvolve um trabalho musical interessante, não apenas executando tradicionais canções ciganas, mas trabalhando atrativas composições próprias, que levaram o público a bater os pés e as mãos no ritmo dos violões e percussão. Na metade final de Vurma, uma parte do Leshjae executou essas canções ao vivo para que as dançarinas pudessem encantar a plateia com suas coreografias. Com certeza, a música ao vivo foi um elemento que deu mais tempero ao espetáculo.
Outro ponto importante foi o fato do Leshjae ter trazido ao hall do Espaço Cultural Linda Mascarenhas, um grupo autêntico de ciganos de um acampamento da cidade de Carneiros, no interior de Alagoas. A intenção, segundo Ruiter Djurdjevjch, foi o de intercâmbio cultural. “Nem mesmo dentro dos acampamentos se vê esse tipo de trabalho. Isso é uma coisa que nós estamos tentando levar para lá, mas tudo sem recursos fica complicado de se promover. E o Leshjae está junto como o projeto Amarudem (nossa pátria), que visa levar de volta a cultura cigana de raiz – com a música, a dança, o artesanato, a poesia, o idioma, que está se perdendo – para dentro dos acampamentos, porque hoje em dia a Globalização está destruindo um pouco a nossa cultura”, avalia. Karol Valença, membro do Leshjae, explicou as atividades que aconteceram no hall do Linda Mascarenhas “Estamos  com uma tenda onde as ciganas de Carneiros estão lendo as mãos das pessoas: é uma forma de divulgá-las e de poder ajudá-las também com algum recurso. Estamos vendendo alguns produtos de artesanato, paar que as pessoas possam conhecer o trabalho cigano”, explica.


Atividades no hall ajudaram a divulgar a cultura cigana - Foto de Diogo Braz

As ciganas de Carneiros participaram lendo a sorte de quem quisesse, no hall do espaço. A cigana Rosa da Silva, falou um pouco sobre o dia a dia no acampamento. “A estrutura é muito precária, a gente se vira como dá: negociar, vender rádio, relógio, botar dinheiro a juros, vende uma coisa no mês e recebe no outro, a gente também lê a mão”. Sobre o espetáculo, Rosa ficou encantada “Foi muito bom, eu achei muito bonito. Quem sabe se na próxima a gente dança também...”, brinca a cigana.
O público também aprovou o espetáculo. A estudante de Enfermage Fernanda Goes gostou da proposta do espetáculo: “Eu adorei, achei muito bonito, muito interessante essa proposta de conhecer novas culturas, de nos enriquecer culturalmente com novidades de outros povos”. O engenheiro Nelson Calazans elogiou os aspectos técnicos do grupo: “O espetáculo foi muito bom. Eu conheço outros grupos de dança e o Leshjae mostrou realmente ter uma ótima qualidade”, afirmou.


Leshjae encantando a plateia - Foto de Diogo Braz

A arte é uma forma eficiente de apresentar uma cultura, e sabe-se que somente pelo conhecimento é que derruba-se os preconceitos. Sempre que um espetáculo se propõe a mostrar cultura, cidadania, conhecimento, um importante passo é dado na luta contra preconceitos.

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