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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

De novo no Front

Jovens roqueiros agitam cena independente de novo no front
Diogo Braz

Os movimentos artísticos são cíclicos como as marés: às vezes, há uma alta e a cidade experimenta um fervilhar de manifestações e, em outros momentos mais baixos, padece num marasmo criativo. Graças aos seus jovens habitantes, inquietos por natureza, a chamada “cena” sempre terá combustível para se reinventar, copiando ou até mesmo ousando criar novos modelos. Uma coisa é certa: as diferentes gerações sempre se beneficiam mutuamente em seu contato. Jovens artistas podem aprender com a experiência dos mais rodados e estes oxigenam sua produção com o gás de um público novo, mais cheio entusiasmo e energia.


Público de diferentes gerações apreciam o Rock - Foto de Diogo Braz

No dia 11 de novembro, no Espaço Linda Mascarenhas, pode-se presenciar um momento importante nesse encontro de gerações. Trata-se do mini-festival “De novo no front”, realizado pelo Coletivo Popfuzz. No line up do evento, nomes recentes no cenário musical, como Sticky Garden (AL) e Alma Bélica (AL), e nomes mais conhecidos, como Kaddish (AL) e Gandharva (PE).
A noite começou com a Alma Bélica, banda formada exclusivamente por garotas que surpreendeu o público com seu Rock melódico, sem perder o peso. Os elogios à performance da banda ecoaram pela plateia, vindos de nomes como o músico e jornalista Marcelo Cabral, da banda Coisa Linda Sound System. “Eu fiquei razoavelmente impressionado, pra falar a verdade. Não conhecia a banda, nunca tinha ouvido falar e me empolguei pra escrever alguma coisa sobre a noite por causa desse show, que eu achei muito massa! Eu acho que a Melinna (vocalista da banda) é uma promessa. Elas estão apenas começando e já está bom pra caramba, imagina quando elas amadurecerem mais essa musicalidade delas... Eu acho que é uma promessa pra música alagoana”, elogiou. As integrantes da banda também aprovaram a apresentação. “Foi incrível. Todo mundo da banda se divertiu muito e eu acho que o público também. O clima do show foi muito bom, tocamos até uma música do Red Hot (Chili Peppers) de improviso. Estamos muito felizes”, declarou a baixista Daniely Rocha.


Alma Bélica, um dos destaques da noite - Foto de Diogo Braz

A banda Gandharva também elogiou a Alma Bélica e fez questão de convidar a vocalista e guitarrista Melinna Guedes para participar do seu show, tocando guitarra no cover de Nirvana, Territorial Pissing, coroando a participação da banda no evento. “Foi uma grande noite pra gente. Foi o primeiro show com esta formação, o que deixou tudo mais novo, mais empolgante, mudou a energia a unidade da banda agora também conta muito. Estamos muito felizes, como uma família mesmo.”, explica Melinna, que adiantou que a banda entrará em estúdio este mês para gravar sua primeira leva de canções. “Já vínhamos tentando gravar antes, mas por uma coisa ou outra não deu. Mas em dezembro, de certeza, a gente entra em estúdio pra gravar sete músicas, mas aos poucos. Depois vamos liberando pela Internet”, promete.


Sticky Garden e seu som com foco sessentinta - Foto de Diogo Braz

A segunda banda da noite foi o power trio Sticky Garden. A banda faz um som alegre, que flerta com tweed, folk, som dos anos 60, Beatles e punk inglês. Tudo isso, com muita distorção e performances peculiares, do carismático vocalista e guitarrista Gabriel Passos. A banda faz parte do catálogo do selo do Popfuzz e vem ganhando destaque entre as bandas mais jovens da cena por suas apresentações ao vivo. Os três garotos já acumulam apresentações em festivais como o Maionese e a Semana da Música de Arapiraca, mostrando que a Sticky Garden vem levando seu som a sério.


Irreverência na Banquinha da Popfuzz, sempre presente nos eventos culturais - Foto de Diogo Braz

No show, a banda mostrou canções de seu primeiro EP, Dizzy, e algumas canções que estarão no primeiro disco completo, previsto para ser lançado em breve. “Estamos nos preparativos pra começar a gravar em janeiro, pra gente poder lançar ainda no começo do próximo ano. A gente já mostrou hoje algumas músicas novas”, adiantou o baterista Felipe Soares. Sobre o De novo no Front, Felipe acha que é importante para movimentar a cena. “Nós ficamos muito felizes em participar, é importante pra incentivar, dar um ânimo pra quem tem banda e quer tocar. É um evento legal pra cidade”, analisa.
A terceira banda a subir no palco do Espaço Cultural Linda Mascarenhas foi a anfitriã da noite, a Kaddish. Formada por remanescentes de bandas do cenário alagoano dos anos 90, a Kaddish tem como sua principal influência o mix new age e punk inglês dos anos 80. No palco, os jovens senhores de meia idade rejuvenescem 10 anos no mínimo, mostrando um show enérgico, na medida permitida pelo tom sóbrio e meio soturno de suas canções.


Kaddish: Experiência que faz a diferença - Foto de Diogo Braz

A banda, que estreou sua nova formação no início do outubro, aparece cada vez mais afiada e entrosada no palco. O público presente aprovou o som do trio. “Como eu já conheço o som deles, eu vim pra ver a Kaddish e conhecer as outras bandas. O evento é perfeito pra se conhecer novas bandas, o público está bem animado e no geral está tudo muito legal”, afirmou o funcionário público Diego Barreto.
O vocalista, guitarrista e idealizador do De novo no Front, Luiz Eduardo Calado, explica como nasceu o festival. "A ideia surgiu numa conversa com o (jornalista e músico) Fernando Coelho, onde eu falava sobre a falta de espaços para tocar com a banda e surgiu a ideia de fazer um show da banda, agregando outras bandas. Daí pro formato do De novo no Front foi um pulo, fui pra casa com a cabeça fervilhando, pensando em nomes e maneiras da coisa funcionar. Já tinha lido um livro chamado 'Nada de novo no front' e associar esse título com a batalha que é produzir show em Maceió foi rapidinho". 
Para encerrar a noite foi a vez da banda Gandharva mostrar seu Stone Rock cantado em inglês, mas com o típico sotaque pernambucano. Os caras se empenharam em fazer uma grande apresentação, muito enérgicos e comunicativos, estabeleceram uma ligação legal com o público, que dançou e vibrou com cada uma de suas canções. Guitarras pesadas, marcação da bateria precisa e melodias vocais com traços psicodélicos, essa é a ótima fórmula da banda, que fez questão de elogiar o público de Maceió. “Estamos descendo desde Fortaleza e todos os shows têm sido massa, mas em Maceió sempre é especial. A gente tá muito feliz de estar aqui hoje. Sem demagogia, mas vocês são demais!” Declarou o vocalista e guitarrista Diogo Pontes.


Gandharva fechou com chave de ouro - Foto de Diogo Braz

O idealizador, Luiz Educardo Calado, avaliou esta segunda edição do evento como positiva. "A estrutura estava muito boa, as bandas e o público elogiaram, o nível das bandas foi muito bom, a curadoria funcionou, enfim... só me deu forças pra fazer a terceira edição no ano que vem", avaliou.
Finalizada mais uma edição do De novo no Front, a troca de vivência entre as gerações parece ter sido frutífera, na esperança de que a cena musical se oxigene e ganhe mais experiência em oportunidades como esta, para que sempre haja jovens roqueiros dispostos a lutar o bom combate, de novo no front.

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