Roberta Aureliano fala sobre seu show baseado na cultura popular
Diogo Braz
Com show marcado para sexta, dia 21 de setembro, pelo Projeto Linda de Música e Artes Visuais, Roberta Aureliano prepara-se para levantar um estandarte importante: o da valorização cultura popular alagoana, da música dos mestres. Com um repertório recheado de referências aos brincantes, Roberta aproveitará a oportunidade para homenagear o seu pai, Mestre Ronaldo Aureliano, com quem aprendeu a escutar a música folclórica com os ouvidos atentos e apaixonados de um ouvinte de FM. Numa entrevista exclusiva para o Blog do Espaço Linda Mascarenhas, Roberta fala sobre sua relação com música e teatro, suas primeiras influências, seu pai, e sobre o que o público pode esperar do show de sexta, às 20 horas, no Linda Mascarenhas. Confira!
Como se deu a construção do repertório e desse show em si? o que o
público pode esperar de Roberta Aureliano no Projeto Linda de Música e Artes
Visuais?
Pra falar a verdade, a construção
"dos repertórios", se deu com a vontade de Roberta junto a um sonho
de Ronaldo, de que as músicas dos Mestres da Cultura Popular Alagoana fossem
ouvidas e cantadas não apenas pelos Mestres e pelos brincantes na hora da
brincadeira, da dança, da apresentação, mas sim por todos os alagoanos a
qualquer hora, em qualquer lugar e em qualquer situação.
No primeiro momento, cantarei parte
do meu show solo - I ATO (também título do meu primeiro CD que ainda será
lançado), que virá com composições de Mestre Sebastião do Guerreiro de Viçosa,
da Mestra Maria do Carmo das baianas de Santa Luzia, do poeta Jader Tenório, de
Mestre Osório do reisado do Bananal (Viçosa), do pesquisador Ary de Oliveira,
do amigo e músico Basílio Sé – que,
inclusive, será uma das participações
especiais no show – e do grande
homem e artista Ronaldo Aureliano.
Já no segundo momento, convidarei ao
palco a Banda Fulô de Maracujá (com a qual estou desenvolvendo um trabalho
junto desde o São João de 2010), para alegrar a noite um pouco mais. A
escolha do repertório da Fulô foi
coletiva e buscou-se um foco onde a 'nordestinidade' estivesse totalmente
presente nos ritmos apresentados.
Com isso, o público do Projeto Linda
de Música e Artes Visuais, pode esperar muita alegria, muita cor, um clima gostoso
de interior, o clima de Viçosa, da "Viçosa, cidadezinha do país das Alagoas,
terra de tanta coisa ruim e terra de tanta coisa boa", como bem falou Théo
Brandão.
Você é atriz e cantora, o que leva do trabalho de atuação para a sua performance como cantora?
Em primeiro lugar, o próprio canto
que vem das entranhas, da emoção que a música pede, do sentimento que as composições
provocam. Sem o luxo de explorar qualquer técnica musical, o natural passa a
ser minha maior característica com referência ao meu trabalho de
atriz, pois creio que o natural faz a cena parecer real e isso, para mim, é
teatro. Daí vem os casos e causos que são contados durante o show, poemas que são
recitados e cenas que de repente surgem, explorando ainda mais o
"jogo" teatral na minha performance e na performance do show.
Seu pai, o mestre Ronaldo Aureliano, registrou em sua obra o cotidiano
do povo nordestino. Por coincidência ou não, pode-se perceber uma forte
presença de elementos nordestinos na sua música, como você chegou a esse
formato estético para o seu som e como você acha que a convivência artística
com o seu pai lhe influenciou no despertar para essa sonoridade?
Esse formato se deu ouvindo...
ouvindo... e... ouvindo os Mestres. Observando que, por muitas vezes, o
"público", simplesmente, não está "nem aí" pra essa
linguagem, a linguagem popular, a nossa linguagem. O "público" não
queria ouvir. Pensei então que as músicas dos Mestres precisavam ser ouvidas,
e, para que isso acontecesse, elas precisariam estar mais próximas desse
"público", ou seja, falando a mesma língua dele. Talvez não seja essa
a melhor maneira de trazer e apresentar a musicalidade desses Mestres, mas
funcionou. Para mim a essência deve permanecer sempre, e, por isso, já estou
com planos para o meu próximo trabalho.
A convivência com o Mestre Ronaldo
Aureliano com certeza influenciou bastante, pois foi ele quem me apresentou o
mundo artístico, foi ele quem me apresentou os Mestres. Ele sempre dizia: (AOS
GRITOS)" É inadmissível você não conhecer a história de Sebastião do Guerreiro,
de Mestre Osório!!! (COM GESTOS
EXAGERADOS DE REVOLTA) Isso é um crime!!!" E eu acreditei nele, naquele
pensamento, naquela verdade. Até hoje acredito e gostaria que todos acreditassem
também pra saber como são belas essas histórias. Essas histórias que formam a
nossa história, a história do povo alagoano, a história de Alagoas.
Esta edição do Projeto Linda fará uma homenagem ao seu pai, não somente
porque será aberta a exposição "A casa do mestre", com as obras dele,
mas porque você estará no palco nesse momento emblemático, com um trabalho que
tem certa aproximação com o trabalho que foi desenvolvido por ele. Como você
enxerga esse show, esse momento de homenagem?
Eu enxergo esse show como uma forma
de conformar-me um pouco com a ausência do meu pai e a alegria de saber
que a alma do Mestre continua viva em cada obra que ele fez. Vejo a homenagem
do Projeto Linda de Música e Artes Visuais como uma iniciativa muito nobre e
uma oportunidade incrível dada aos artistas. Aproveito o momento para agradecer
à todos os idealizadores do Projeto por esta porta que foi aberta com tanto
carinho. Muito obrigada!
Você toca música nordestina, mas que nada se parece com o tal forró
eletrônico, ou outros timbres mais comerciais da sanfona. Como você enxerga o
cenário cultural alagoano para a sua música?
Acho que já estivemos em situação
pior. Temos tantos artistas já preparando, formando essas plateias, que graças
a Deus, estou conseguindo ganhar espaço no cenário da música alagoana com o som
que faço. Esse som que não é meu. Esse som que vem da criatividade e talento
dos nossos Mestres. Esse som que ficará eternizado por sua própria existência.
Salve Mestre Sebastião, salve Mestra
Maria do Carmo, salve Mestra Virgínia, salve Mestra Ilda, salve Mestre Osório, salve
Mestre Expedito, salve Mestre Bia, salve Mestra Quitéria, salve Mestre Ronaldo
Aureliano...
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