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sábado, 1 de outubro de 2011

Palavra Mínima: Deyves e Gal Monteiro

Deyves e Gal Monteiro apresentam toda sua multiplicidade e ecletismo no Palavra Mínima

Diogo Braz

O Projeto Palavra Mínima continua brindando o público com ótimas amostras da rica cena cultural alagoana. Realizado pelo Instituto Zumbi dos Palmares (IZP) e pela Cooperativa dos Trabalhadores da Música de Alagoas (Comusa), o projeto tem a premissa de unir num só palco duas linguagens parceiras: a música e a poesia. Nada melhor que personalizar esse encontro na parceria-amizade entre Gal Monteiro e Deyves.


Deyves em ação - Foto de Maria Tereza Pereira

Ímpares, múltiplos, os dois têm peculiar versatilidade artística que marca positivamente a produção de ambos: Um é músico, cantor, compositor, poeta, artista plástico; a outra é cantora, compositora, poetiza, jornalista, apresentadora, corista... Essa multiplicidade dá tons interessantes no trabalho dos dois. A dupla possui química no palco, fruto de longa amizade, que surgiu ainda nos tempos de faculdade, por causa de outra linguagem artística. “A gente já se conhecia por causa do teatro. Eu e Deyves também militávamos no Movimento Estudantil, e daí a gente foi fazendo essas conexões. Eu diria que a gente é companheiro de vida e arte, tem uma coisa de fidelidade nessa amizade de tantos anos, além dessa interseção na arte, que é uma coisa que junta tudo”, define Gal Monteiro. Hoje, militam nas artes e demonstram um forte senso de engajamento com as suas produções. Mesmo com toda a multiplicidade, não são do tipo que se propõem a fazer algo mal feito. Isso, por si só, já é garantia de um ótimo espetáculo!


Música e poesia - Foto de Diogo Braz

O modelo da apresentação foi semelhante às apresentações anteriores do projeto, mas Deyves e Gal Monteiro ousaram um pouco mais: Gal recitou poesias por entre o público, sentou-se à beira do palco, trocou o figurino; e Deyves teve seu momento “solo”, na ausência da poetiza, acompanhado somente pelos ótimos músicos Van Silva (baixo), Toni Augusto (guitarra) e Auderi Santana (percussão). Os três fizeram bonito, acompanhados por Deyves ao violão. Santana, mais conhecido na cena musical pelo apelido “Batata”, manteve o ritmo com simplicidade e criatividade; Van Silva tocou com a característica elegância de timbre e arranjos; e Toni Augusto desfilou sua virtuosidade com pleno domínio da guitarra. Deyves não poupou elogios ao grupo: “Eu gosto muito de tocar com esses caras, que sempre me dão o prazer da companhia. Sempre que eu faço algum trabalho, o meu amigo Van está junto. O Batatinha quase sempre toca comigo também. O Toni Augusto, apesar de muitos tempo que nos conhecemos, essa é a primeira vez que eu terei o prazer de fazer um trabalho meu com ele. São todos ótimos músicos”, comentou.
Subvertendo padrões de um projeto que privilegia a palavra, o show começou com uma ótima composição instrumental de Deyves, cheia de fraseados com potencial para serem assoviados por várias semanas. Se fosse possível descrever a música de Deyves em uma palavra, ela seria “eclética”. São composições que passeiam com desenvoltura pelo Xote, Blues, Chorinho, Samba, mas que mantêm uma identidade própria entre elas. “É tudo misturado mesmo, né? É parecido comigo!”, falou o músico, sorrindo.


A eclética música de Deyves - Foto de Diogo Braz

Deyves soube escolher o repertório, guiando o público primeiramente por territórios sonoros mais inusitados, para depois repousar no conforto de sambas com pegada de Noel Rosa, uma das referências declaradas do músico “Eu acho que o samba é o que me chama, o que me fascina. Mesmo quando eu fiz shows nessa linha mais Pop, sempre colocava um Samba de Noel Rosa, porque eu sou grande fã de Noel Rosa. E atualmente eu tenho enfatizado mais a questão do samba”, declarou Deyves.


Andréa Laís interpreta Ponto de equilíbrio - Foto de Diogo Braz

Outro ponto certeiro foi a participação da cantora Andréa Laís. Dona de uma linda voz, afinada, e com presença elegante e tranquila em cena, Andréa tornou ainda mais bonita a canção “Ponto de equilíbrio”, composição de Deyves. A cantora arrancou aplausos da plateia e se mostrou como uma nova promessa da cena musical alagoana. Andréa Laís explica a parceria e elogia a iniciativa do projeto: “Desde o ano passado, eu e o Deyves estamos fazendo uma parceria contínua. Em novembro eu fiz um show no Quartas Musicais do Sesc que se chamava ‘Ponto de equilíbrio’ e era baseado nessa canção que eu cantei hoje. Eu fiquei muito feliz pelo convite, porque esse é um projeto com a proposta fantástica, que pode contribuir muito pra nossa cena cultural”, comentou.
Durante o show, Deyves e Gal apresentaram algumas de suas parcerias musicais, algumas tocadas e outras apenas declamadas. “Eu lembro da nossa primeira música. Eu acordei 5:30hs da manhã com essa ideia meio latina na cabeça. Aí, uma 7hs eu estava casa da Gal, antes dela sair pro trabalho, e ela começou a fazer uma letra encaixando na métrica... E esse foi o nosso primeiro trabalho. Hoje nós temos umas dez ou doze canções juntos”, lembra Deyves. Gal explica como se dá a parceria. “Como eu não toco, eu ficava cantarolando a melodia pra não esquecer, aí corria até ele, ele pegava o violão... às vezes eu chegava na Residência Universitária, correndo da rua, e chegava ‘Deyves, Deyves, eu tenho uma ideia aqui’ e era o mote pra ele harmonizar tudo. E daí nascia uma canção”, recorda.


A poesia da múltipla Gal Monteiro - Foto de Diogo Braz

Gal Monteiro fez intervenções poéticas ecléticas, mas o tema mais recorrente foi o romantismo, sem ser piegas, um romantismo carregado de versos sensuais, no ritmo e nas palavras. Talvez o fato de se sentir à vontade no contato com o público como apresentadora de rádio e TV a tenha preparado, ao longo do tempo, para interpretar seus poemas com uma desenvoltura que cativou a plateia. Entre os textos, algumas letras de música e trechos do seu livro de contos “Se eu calar você me esquece, se eu contar você me abraça”, cujas palavras fluem na leitura e encontram também um ritmo poético. “Eu adoro escrever, mas eu não me digo escritora, pois eu acho que para me auto-intitular ‘escritora’ eu teria de ler muito mais do que eu já consegui ler... então eu digo que sou uma aspirante a escritora. Adoro literatura, então eu me sinto muito bem escrevendo. E coincide que, para ser jornalista, a pessoa tem de gostar de ler e escrever...uma coisa meio que combina com a outra, a literatura e o jornalismo.”, explica a modesta poetiza.
Acostumada a parcerias, seja compondo ou mesmo em coral, Gal Monteiro vê nessas oportunidades a possibilidade de compartilhar a sua arte. “Eu adoro essa coisa de construir junto, essa coisa de entrar um elemento, depois outro, as contribuições vão se juntando e, quando você vê, cria-se uma harmonia linda. E eu sei que tudo está afinado quando me arrepia. Aí eu já sei que está no ponto”, explica Gal.
O público parece ter se arrepiado com o espetáculo da dupla, que teve direito a Bis, pedido de pé pelo público que aplaudia. “Eu gostei bastante do show, foi uma oportunidade única de conhecer mais as poesias da Gal, já conhecia algumas canções do Deyves e fiquei conhecendo outras... foi maravilhoso!”, aprovou a comunicóloga Danielle Cândido, que prestigiou o espetáculo.
Com a aprovação do público, ficou no ar a sensação do dever cumprido. Mais uma vez, poesia e música juntaram-se para proporcionar duas horas de boas atrações na semana, no palco do Espaço Cultural Linda Mascarenhas. Só resta esperar pelo próximo show, que acontecerá na sexta, dia 7 de outubro, com Luiz Alberto Machado e Fatia Maia. Imperdível!

1 comentários:

  1. O texto ficou delicioso, Diogo! Dinâmico, fluido e bem escrito. Fora que os artistas em questão são velhos conhecidos da gente, né?
    Parabéns, adorei! :)

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