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quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Bonecos Guerreiros do Caçuá encantam gerações no Linda Mascarenhas

Diogo Braz

Paulinho da viola, em sua Dança da solidão, deixou um ensinamento que deveria receber a atenção de todos: “Quando penso no futuro, não esqueço o meu passado”. É dessa forma que o Grupo Caçuá parece direcionar sua bússola rumo aos dias de amanhã, pautando-se numa valorização da cultura popular de raiz, aquela que esteve presente no cotidiano de nossos antepassados e que o ritmo do mundo de hoje, cada vez mais globalizado, insiste em querer nos fazer esquecer.
Somente o fato do grupo pretender resgatar a rica tradição cultural alagoana já seria motivo bastante para conferir o espetáculo “Bonecos Guerreiros”, que esteve em cartaz no Espaço Cultural Linda Mascarenhas nos dias 11 e 12 de outubro, com apoio do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP). Além disso, o espetáculo em questão foi resultado do Projeto “A vós, avós: a voz”, da Associação de Amigos de Piaçabuçu, que recebeu o Prêmio de Inclusão Cultural da Pessoa Idosa, do Ministério da Cultura, um reflexo do profissionalismo com que o grupo encara sua produção.

Valorização da cultura popular - Foto de Diogo Braz

Dalva de Castro, membro do grupo, explica como foi o processo de montagem. “Este é um dos espetáculos do Caçuá que foram resultado do prêmio de inclusão da pessoa idosa, o que nos deu a oportunidade de trabalhar com duas mestras – no caso do espetáculo de hoje, com a Mestra Dona Lourdes, que trabalha com Guerreiro e Reisado, além de fazer bonecas de pano. Então, a idéia era juntar dois conhecimentos: a boneca de pano e os personagens, que são os brincantes do Guerreiro. Cada uma dessas figuras, no Guerreiro, tem sua história desenrolada, o que a gente fez foi conhecer essas figuras e criar uma história onde várias delas pudessem se encontrar. E isso acabou gerando um espetáculo musical”, explicou.
Em Maceió, o espetáculo estreou no Espaço Linda Mascarenhas, mas já havia sido apresentado em cidades do interior como Piaçabuçu e Traipú, onde teve boa receptividade do público. “A gente tem sido bem recebido, eu acho que os mais velhos se identificam e os mais jovens também porque o Guerreiro é uma brincadeira, é alegre, colorido, cantado, e isso acaba conectando os jovens. E o que acabou sendo uma surpresa é que o espetáculo tem encantado as crianças: onde a gente se apresentou, pudemos perceber que elas se acabam de rir, porque é o Guerreiro uma coisa leve e bonita, mas a gente não imaginou que pudesse atingir tantos públicos assim”, revelou Dalva.

Atores são brincantes no espetáculo do Caçuá - Foto de Diogo Braz
No palco, nove atores/brincantes se revezavam entre atuações, instrumentos musicais, dança e cantoria para contar a história do índio Peri, que parte numa jornada para salvar sua amada, é preso, luta pela sua liberdade e encontra personagens do folclore brasileiro. É realmente uma trama que tem o potencial para atingir vários públicos, por meio de um texto simples e didático, mas sem ser bobo. Traz um pouco da inocência de tempos em que as brincadeiras de Guerreiro eram mais presentes no nosso cotidiano, acendendo os filetes de nossa memória afetiva.
Essa brincadeira, os personagens, o ritmo das cantigas, as cores do figurino e a referência às bonecas de pano estão nas raízes do nordestino, misturando os tempos de antigamente com a atualidade. Tamires Melo, integrante da Companhia Fulanos Ih! Sicranos, que também é parceira na realização, falou sobre o trabalho do Caçuá aproximando gerações: “O grupo Caçuá tem tentado trazer essa cultura meio esquecida à tona. E o 'Bonecos Guerreiros' tem essa característica de união de gerações, é um espetáculo recheado de uma cultura que é nossa, que a gente precisa valorizar e que está aí pra todo mundo, independente da idade, absorver", explica. Dalva de Castro, do Caçuá, também destaca essa troca cultural: “Uma das coisas com a qual a gente sempre trabalha é essa coisa de misturar os conhecimentos. Então, para mim, é muito gratificante ver uma jovem cantando uma música de tradição, eu acho que isso dá uma ressignificação para a cultura popular, sem ela se tornar estanque, parada: Ela ganha novo significado e, dessa forma, a gente consegue perceber que ela não morre, na verdade ela aproxima gerações e acaba despertando para conhecimentos que às vezes estavam esquecidos”, avalia Dalva.

Espetáculo leve e colorido agrada a várias gerações - Foto de Diogo Braz
Um fato interessante é que boa parte da plateia era de guias turísticos, que foram conferir o espetáculo e conversar com o Caçuá sobre as possibilidades e formatos para apresentar esse espetáculo, tão repleto de cultura alagoana, para turistas que vêm visitar o estado e que gostariam de experimentar um pouco mais da nossa cultura popular. O debate aconteceu após o espetáculo, quando os membros do Caçuá puderam explicar como foi construído o espetáculo, a importância de preservar as manifestações culturais tradicionais e outros temas interessantes.
O público saiu de lá satisfeito. A atriz Joelle Malta, que conferiu o espetáculo, explicou o que achou dos Bonecos Guerreiros: "Eu acho interessante eles resgatarem um folguedo e é sempre bom valorizar o que a gente tem de mais precioso. Enquanto espetáculo, eu gostei muito da dramatização desse folguedo e poder conhecer um pouco mais sobre ele. Eu sou alagoana, eu conheço o folguedo, mas talvez eu conheça um pouco da apresentação, mas nem tanto da história dessa manifestação. Hoje eu pude conhecer um pouco de cada personagem e achei isso muito rico. E também gosto muito dessa mistura das linguagens, como o teatro, a dança, do canto, que o grupo apresentou e que o próprio folguedo já propõe. Foi muito bom poder ver o espetáculo e sair daqui conhecendo mais sobre nossos folguedos", explicou Joelle.

Brincadeira levada a sério - Foto de Diogo Braz
O Caçuá ainda deve apresentar o espetáculo em outros espaços, a boa resposta do público e o interesse dos profissionais do Turismo de que esse projeto seja levado adiante ficou evidente, deixando claro que devemos valorizar mais nossa cultura "de raiz" e que não podemos esquecer do nosso passado ao vislumbrar o futuro, como diria a velha canção. 

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