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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Entrevista: Renan Inquérito

Versos que lutam mil batalhas
Renan Inquérito fala sobre a sua poesia transformadora

Diogo Braz

Se a arte pode transformar vidas na guerra do dia a dia, a poesia de Renan Inquérito é uma arma poderosa em combate. De versos curtos, concretos e eficazes, a escrita do MC paulista pode ser conferida no seu primeiro livro,  #PoucasPalavras, que será lançado às 8 horas do dia 24/09, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas. 
Renan é um homem do hip-hop, integrante do cultuado grupo de Rap Inquérito, escritor e educador. Participa de projetos sociais ministrando oficinas de literatura em escolas e unidades de detenção e chega a Maceió para conversar com o público interessado em literatura e cultura hip-hop. 
Numa entrevista exclusiva para o Blog do Espaço Linda Mascarenhas, Renan fala sobre a sua relação com a poesia e o hip-hop, seu trabalho como educador e sobre o seu livro, em poucas e boas palavras. Confira!

Na sua vida, como surgiu a vontade de escrever? Foi por causa da poesia que você se tornou MC? 
Quando eu comecei a escrever não sabia nem o que era poesia, o que era letra de música, eu simplesmente escrevia sem me preocupar com a forma, depois que fui tomar ciência…
Como a cultura hip-hop influencia a sua poesia?
Ela simplesmente norteia tudo que eu escrevo, direciona todas as minhas palavras, se eu for escrever algo que se contradiz com o que o hip-hop prega eu simplesmente não escrevo, o hip-hop foi a minha escola, minha diretriz.

Renan, a métrica e a rima - Foto de divulgação

Como você analisa o papel da declamação em relação à sua obra, extremamente visual na construção?
Algumas poesias não tem sentido e nem força fora do papel, outras já são justamente ao contrário, só tem força se declamadas, o meu livro é uma mistura disso tudo, é a força da fala (como o rap) e a força do visual (como o grafite), uma imagem que diz mais que mil palavras.
Este é o seu primeiro livro, fala um pouco sobre ele, como é que você chegou no formato e no conceito para realizá-lo?
A essência do conteúdo veio das minhas letras, o formato (de bolso) veio do nome #PoucasPalavras, e do fato de torná-lo muito mais barato e acessível ao leitor. As cores, as fotos, os desenhos, a diagramação, a disposição e organização dos capítulos aconteceram com a ajuda de pessoas muito próximas e que compartilham das minhas ideias, são elas Jéssica Balbino, Marcio Salata, Toni C, Mundano e Narúbia.
Lançando um livro de bolso chamado #PoucasPalavras (uma alusão a Hastag do microblog Twitter, em que somente são publicados textos com até 140 caracteres) você aborda essa pressa do mundo contemporâneo, onde você mesmo fala que as coisas passaram a ser compactadas e diminuídas. Como esse panorama te influenciou na construção do livro? 
Me influênciou não só na construção do livro como na própria vida, hoje tudo é diminuído, veja o MP3, veja os carros, alguns são feitos para apenas uma pessoa, note o tamanho das músicas e filmes, tudo diminuiu, até as casas e apartamentos são cada vez menores. As pessoas acham bonito tudo que é compacto, Bonsai, Pinscher (cachorro), Netbook, etc. Dentro de tudo isso também diminuiu o respeito, o orgulho, o amor, a caridade e tantos sentimentos bons, que muitas vezes são jogados na lixeira para não ocupar espaço no “HD”.

Renan e sua poesia hip-hop - Foto de divulgação 

Você acredita que essa diminuição, a compactação de tudo, pode comprometer o futuro do texto poético? Como você lida com ela?
Na verdade não, porque esse tipo de poesia já existe faz tempo, desde o Haikai japonês até as frases de para-choques de caminhão no Brasil. Mas é legal que surge um novo estilo de escrever, torna-se um desafio para o escritor desenvolver um conto ou uma poesia usando poucas palavras. Se por um lado compromete a qualidade por outro estimula a criatividade.

Ao mesmo tempo em que você comunica com poucas palavras nas poesias, faz Rap com letras extensas. Como é que você lida com o Renan poeta e o Renan compositor?
Na verdade, eu não separo. Na hora da criação, nunca sei se aquilo sera uma música ou uma poesia, já fiz poesias que me salvaram na hora de terminar uma música pros meus discos, e já fiz músicas que tornaram-se poesias no papel, então não existe limite, a fronteira fica sempre aberta e vira e mexe um verso clandestino migra, ilegalmente do microfone pro papel e vice-versa.
Sobre seu trabalho social, como é a experiência de intervir na vida de detentos, pessoas em situação de risco, usando a poesia como instrumento de transformação social? Quais os resultados que você vem observando nesse processo?
Pra mim é extremamente gratificante, até porque como educador eu sei o quão limitado são os métodos pedagógicos tradicionais, por isso me sinto um privilegiado, por poder levar o conhecimento de uma maneira simples e acessível, e o que é melhor, de acordo com as práticas de vivência dessas pessoas, a identificação é automática. Atuo muitas vezes onde os métodos formais fracassaram, por isso a cobrança é dobrada, a responsa é maior, muitas vezes pego “a batata queimando já”, e me colocam pra apagar incêndio com copo d’água, nem sempre consigo.

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