Ads 468x60px

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Entrevista: Lael Correa

Os Rocks de Lael Correa
Dramaturgo alagoano fala sobre a mais recente montagem do Infinito Enquanto Truque

Diogo Braz

Lael Correa já virou uma marca no Teatro alagoano. Dono de um olhar crítico sobre o fazer Teatro, o diretor, ator, dramaturgo e artista plástico concebe suas montagens não apenas como uma opção de entretenimento, mas principalmente um exercício de reflexão. 
É por meio de seus textos e direção que os atores do grupo Infinito Enquanto Truque (IET) -  fundado por Lael em 1990 - desenvolvem todo o seu talento a serviço de um Teatro engajado na análise da sociedade e seus costumes. Rock-me, que está em cartaz no Espaço Linda Mascarenhas nas noites de sábado (20hs), é um belo exemplo disso. Uma família sertaneja imersa em um contexto de transformações sociais, de revolução cultural, enfrenta também os seus próprios conflitos, das questões religiosas, da rebeldia, da sexualidade, da sensação de deslocamento... Sentimentos universais postos a frente da plateia, não tão claramente resolvidos. O papel do público é justamente apreciar e tirar suas próprias conclusões.

Rocks de Lael - Foto de Ricardo Lêdo (em Gazeta de Alagoas)

Em entrevista ao Blog do Espaço Linda Mascarenhas, Lael fala sobre a concepção de Rock-me e um pouco de sua ligação com o Teatro. Confira:

Rock-me é, antes de tudo, uma homenagem ao dramaturgo mineiro José Vicente. Quando surgiu a vontade de fazer essa homenagem? E por que você escolheu fazê-la com referências à peça Hoje é dia de Rock?
Lael Correa - A minha admiração por José Vicente existe desde o começo dos anos de 1980, quando eu morava no Rio de Janeiro. Na época, os meus professores de teatro falavam das peças dele com um entusiasmo incomparável e isso também ampliava o meu interesse pela dramaturgia de JV, pois as encenações de peças como "Hoje É Dia de Rock" tornaram-se quase que lendárias. Naturalmente, eu me identificava com o universo poético e transgressivo proposto pelo autor, mas só agora foi possível transformar o afeto em homenagem. E não se trata de homenagear postumamente o dramaturgo José Vicente, mas de homenagear a bela dramaturgia que ele produziu. Um teatro que ele semeou e que alimentou diversas gerações de artistas e de platéias.

Cena de Rock-me com Cid Brasil e Dinah Ferreira - Foto de Divulgação


Sempre se espera do IET montagens que inspirem reflexões. Vocês anunciaram Rock-me como um espetáculo menos comprometido com essas reflexões, mais voltado para uma linha de entretenimento inteligente. No entanto, percebe-se que a assinatura do grupo está lá, assim como o convite às reflexões. Quais as reflexões que você buscou despertar no público desta vez, com o texto de Rock-me?
Lael - A busca da reflexão é sempre uma clara e cara opção do IET. No entanto, é importante que a ação cênica possa ter outras funções e prioridades. A poesia, a beleza e até a mera diversão às vezes são tão pertinentes quanto a reflexão, a consciência crítica ou o rigor formal. Em Rock-me, os assuntos abordados são diversos e nem sempre convergentes. Dentre eles, religião, família e comportamento talvez sejam os mais flagrantes. É neles que a peça alicerça seu discurso, que oscila entre a transgressão e o dever ou entre a liberdade e a responsabilidade. Além disso, é uma encenação que retrata um período onde as transformações culturais e sociais foram marcantes. Isto, por si só, é mais reflexo do que reflexão, ou seja: propõe mais um "espelhamento" do que um "questionamento". Afinal, no século XXI a questão não é valorar a história e a importância de fenômenos como o do Rock, do movimento hippie ou da cultura "udigrudi". Melhor é falar dessa história curtindo e elogiando o que ela teve de melhor. Rock-me é uma peça solar, não propõe críticas ou bandeiras. É celebração.

Lael Correa - Foto de divulgação


Rock-me lança um olhar sobre uma família sertaneja imersa nas ondas de revolução cultural trazidas pelo rádio, principalmente nos anos 60. Como você explica que as questões da peça se mostrem pertinentes na realidade de hoje? Como você trabalhou esse paralelo da década de 1960 com a segunda década dos anos 2000 no seu texto?
Lael - É importante lembrar que, nas artes, a atualidade de um tema dificilmente se restringe a uma época ou lugar. É por isso que ainda hoje se representa Sófocles, Shakespeare e Brecht. Então, quando se trata da arte de 1970, estamos falando de algo tão recente quanto as viagens interplanetárias. As revoluções culturais dos anos de 1960 ainda são tão recentes que as fogueiras de sutiãs feitas pelas feministas estão, se me permite o trocadilho, intimamente ligadas às Marchas das Vadias, realizadas nesse 2012. O rock'n'roll ainda é algo tão novo e revolucionário que ocupa os primeiros lugares nas listas de "forças demoníacas" das igrejas. E os insurretos ainda são os mesmos: o hippie foi substituído pelo punk, que tornou-se dark, que virou grunge e agora é rapper. Enfim, mudam as nomenclaturas e tecnologias; trocam-se os cenários e os figurinos, mas as questões essenciais que determinam a condição humana são as mesmas. E o teatro não trabalha com modismos, mas com símbolos, arquétipos e simulacros. Ele é efêmero apenas na forma, pois o seu sentido, a sua poética e a sua busca pelo entendimento da alma humana independem de tempo e espaço. Do mesmo modo, a linguagem teatral alimenta-se continuamente do seu próprio arcaísmo, do seu modo artesanal de produção e da sua humanidade. Afinal, não foi por causa do surgimento do transporte aéreo que o transporte terrestre desapareceu e não será por causa das redes sociais que serão extintos os carnavais. Cada coisa tem seu espaço e tempo, a diferença está no fato de que há coisas que são mais humanas, sensíveis e inteligentes do que outras. Entre estas, estão as artes cênicas.

Cena de Rock-me: som imaginário - Foto de divulgação

Em comparação às transformações culturais ocorridas nos anos 60, principalmente no teatro, seu campo de atuação, como você enxerga essa década que estamos vivendo?
Lael - Cada período da história humana possui seus próprios encantos, crueldades, contradições e transformações. Mudam as políticas, linguagens e tecnologias, mas o homem estará sempre em busca das mesmas respostas. De onde viemos e para onde vamos? Quais os significados da vida, da morte, do sagrado, do amor ou da barbárie? São eternas indagações e desafios, pois a história é dinâmica e também é cíclica. Aparentemente não há novidades no front, mas, parafraseando Mário Quintana, tudo é novo debaixo do sol. A arte se alimenta dessas questões e os palcos, que sempre se iluminam para recontar as mesmas novidades, são exemplo disso. Tal ideia bem poderia ser resumida no título de uma peça de Antunes Filho: Nova Velha História.

Qual o papel da música, da trilha e efeitos sonoros, em Rock-me?
Lael - Há espetáculos onde a música é utilizada como recurso meramente decorativo ou serve apenas para 'emoldurar' determinadas cenas. No entanto, em peças como Rock-me a música não é um elemento secundário, mas de extrema importância. É a música que indica a passagem do tempo e marca as transformações pelas quais passam as personagens. Além disso, ela permite um raro prazer para os atores e para a platéia. Prazer onde se misturam o compartilhamento da informação musical, da memória e do afeto.

Toda rebeldia do Rock - Foto de divulgação


O que você tem sentido da recepção do público em relação ao espetáculo e quais as expectativas para as próximas apresentações?
Lael - A peça está em cartaz há três semanas e ainda é muito cedo para avaliar os resultados. Mas, de um modo geral, a receptividade é boa e, de certo modo, muito confortável; afinal, raramente podemos contar com coadjuvantes como Elvis Presley, Janis Joplin, The Beatles e Pink Floyd, não é? (Risos).


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cinema é uma coisa Linda 14/06

Cinema é uma coisa Linda continua com o ciclo Isto não é verdade

Diogo Braz

A sessão de amanha do projeto Cinema é uma coisa Linda, parceria entre o Instituto Zumbi dos Palmares e o Cineclube Cine Ideário, vai apresentar mais dois documentários, que fazem parte da programação do ciclo Isto não é verdade, que vai exibir documentários até agosto, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas.
Neste dia 14 de junho, serão exibidos os documentários de Agnès varda: Ulysse, de 1986, e Daguerreótipos, de 1976.
A roteirista e diretora Agnès Varda - Foto de divulgação

Agnès Varda é uma cineasta e roteirista belga, radicada na França. Viúva do cineasta francês Jacques Demy. Sua incursão no cinema foi através da fotografia, sua declarada paixão. 
O projeto Cinema é uma coisa Linda acontece toda quinta, às 19 horas, com entrada franca!
Mais informações, pelo telefone 8814-0009


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Entrevista: Jorge Tenório


O ouro de Jorge
Jorge Tenório dá entrevista exclusiva sobre seu novo livro

Diogo Braz

O escritor alagoano Jorge Tenório lançou ontem (05/06/12), no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, o seu quinto livro, o romance "O ouro do coronel". Para a ocasião, ele preparou uma bonita festa e recebeu os amigos e admiradores de sua obra, numa noite em que a literatura foi a grande homenageada.

Noite repleta de convidados - foto de Diogo Braz

Os elogios sobre o estilo de escrita e escolha das temáticas em suas obras podiam ser escutados em todo o Espaço: um homem que vem marcando seu estilo e se destacando na arte de lidar com as palavras. 
Para falar um pouco mais sobre o seu novo livro e sua relação com a literatura, Jorge Tenório concedeu esta exclusiva entrevista, que pode ser conferida a seguir. Aproveitem!

Este é o seu quinto livro, de onde surge a inspiração para tantas histórias?
Acho que a inspiração vem primeiramente deste dom que Deus me deu de contar histórias e depois da minha experiência de vida, desde a infância até os dias de hoje, vamos vendo e vivendo fatos, acontecimentos, situações interessantes, que merecem ser contadas e que servem de base para a elaboração de uma história, que, dependendo do tamanho, se transforma num conto ou num romance.

A noite também foi de autógrafos - Foto de Diogo Braz

A referência do homem interiorano, da vida sertaneja, parece ser muito forte em sua obra. Como você consegue trazer essas referências para os seus livros mesmo morando em meio urbano?
É que nasci e vivi até os doze anos de idade num povoado no interior de Palmeira dos Índios, depois me mudei para a cidade, mas não deixei de ter contato com o homem interiorano, pois meu pai era  político e sua casa vivia cheia de sertanejos, de gente humilde. Então o jeito de vida simples do homem do campo e seu linguajar autêntico ficaram impregnados na minha cabeça. Aliás, eu próprio sou um homem do campo, carrego dentro de mim as características do sertanejo, apesar de já viver há bastante tempo na capital.

Qual o papel da literatura na sua vida?
A literatura sempre representou muito para mim, desde a minha juventude. Via os meus irmãos e amigos de minha idade saírem para as festas, mas eu preferia ficar na companhia de um romance. Li muito, acho que todos os autores brasileiros e vários de outras nacionalidades. O gosto pela leitura me levou a ousar escrever alguns contos, daí parti para o romance. Escrever para mim se tornou um hábito tal qual caminhar. Todos dois são salutares. Escrever para mim funciona como uma terapia, vou me deliciando enquanto escrevo, não me importanto se os outros, mais tarde, vão rir ou achar interessante também aquilo que escrevi. E para completar digo que a Literatura nos enriquece, ela anda de mãos dadas com a Educação, que, como todos sabem, é o caminho mais curto para o progresso.

O ouro do coronel - Foto de Diogo Braz

Em "O ouro do coronel" a figura do cangaceiro é vista pela população da pequena cidade como a personificação da esperança,. um herói. Como você enxerga esse polêmico paradoxo do fora da lei aclamado pela sociedade, tal qual o fenômeno nacional Capitão Nascimento ou o controverso Lampião?
No meu livro "O ouro do coronel", um coronel tirano oprime os mais fracos, acha-se o dono de tudo e de todos, então acho que é por isso que qualquer um que lhe fizesse oposição, que tivesse realmente condições de vencê-lo, seria aclamado como um herói, mesmo sendo um fora da lei. Acho que foi assim com Lampião e nos dias de hoje com o capitão Nascimento, que simboliza a luta contra o monstro da corrupção e do crime.

Infelizmente, o coronelismo ainda é um tema atual e perturbante na sociedade alagoana. A má distribuição de renda mantém uma elite predominantemente agrária e com poderio político em todo o estado. Como você enxerga essa sociedade e qual a crítica que o seu livro pretende fazer ao atual coronelismo?
Acho que enxergo como a maioria enxerga, ou seja, uma situação extremamente injusta e cruel. São poucos dominando e manipulando a massa. Enquanto isso predominar, viveremos nessa pobreza, nessa falta de esperança de um futuro melhor. Meu livro mostra isso no início do Século XX, mas infelizmente a coisa não mudou muito.

O escritor recebe o carinho do público - Foto de Diogo Braz

Pergunta clichê, mas, infelizmente, ainda necessária em nossa realidade: Quais as dificuldades enfrentadas por um escritor ao publicar o seu livro aqui, em nossa terra?
Isso aí é uma ferida crônica: o tempo passa, o mundo se moderniza, sabe-se que a educação é fundamental para o progresso de um povo, mas cadê que se investe nisso, facilitando a aquisição de um livro, incentivando-se a Literatura? Quando publico um livro, ou sai do meu bolso ou deixo de lado a timidez e a vergonha para pedir um incentivo aos empresários, pois o Estado "nunca tem recursos" para patrocinar a edição de um livro. Se não fossem essas pessoas que se condoem do nosso choro, aí era que as coisas seriam mais difíceis ainda.

Como conhecer mais sobre a sua obra? Onde adquirir seus livros ou obter mais informações sobre o escritor Jorge Tenório?
Dos meus três primeiros romances eu só possuou alguns exemplares em casa (a livraria da EDUFAL deve ter de "O sacripanta"), só existem mais exemplares do romance "Armações do Capeta", que também estão comigo, mas vou distribuir em algumas livrarias da cidade, juntamente com este que estou lançando hoje. É que o patrocínio que consigo só dá para uma edição pequena, com poucos exemplares, 1000 no máximo. Quanto a saber mais sobre minha pessoa, estou à disposição no meu e-mail (jorgetenorioal@yahoo.com.brou pelo Site da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes (www.APALCA.com.br). 

terça-feira, 5 de junho de 2012

2ª Virada Cultural da Terceira Idade da Facima


Espaço Linda abre as portas para a melhor idade

Diogo Braz

O Espaço Cultural Linda Mascarenhas abrigou, no mês de maio, a segunda Virada Cultural da Terceira Idade da Facima. Foram três dias de extensa programação repleta de apresentações, feira de produtos artesanais e palestras direcionadas a uma faixa especial da população: os idosos.

A melhor idade lotou o Espaço Linda - Foto de Diogo Braz

Uma boa maneira de avaliar uma sociedade é observar como ela trata seus membros mais velhos. Se lançarmos um olhar sobre toda a sociedade alagoana, vamos nos deparar com um preocupante diagnóstico: Nós não damos a devida atenção aos idosos. O mais curioso é perceber que envelhecer é o futuro de todo membro da sociedade, pelo menos daqueles que escapam dos graves e precoces números da violência e da mortalidade. São poucos os programas voltados para a terceira idade em Alagoas. As iniciativas existentes partem, em sua maioria, da sociedade civil e são insuficientes para atender a demanda de uma população que acompanha o aumento da expectativa de vida no Brasil e envelhece.

Francisco Silvestre: o idealizador - Foto de Diogo Braz

Pensando nesse quadro de falta de assistência, o Jornalista e gerontólogo Fancisco Silvestre levou à direção da Faculdade da Cidade de Maceió, Facima, a proposta de realizar uma virada cultural da terceira idade e esta foi bem recebida pela instituição. Com a parceria do Instituto Zumbi dos Palmares, o evento chegou a sua segunda edição, apresentando-se como uma boa opção de lazer e principalmente valorização dos idosos alagoanos. É importante destacar projetos como este, para alertar a população, digamos, mais jovem a semear o ambiente onde viverá sua velhice.

Capoeira boa de ginga - Foto de Diogo Braz

Durante o evento, muita música, apresentação de teatro, exibição de capoeira, dança, brincadeiras em que os protagonistas exibiam cabelos mais grisalhos, um olhar mais experiente, uma maturidade menos compromissada com a seriedade e sorrisos com centelhas de infância. A terceira idade pode ser a melhor idade.

Feira de produtos artesanais - Foto de Diogo Braz

Preparação do grupo de teatro - Foto de Diogo Braz

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cinema é uma coisa Linda - 06 de junho

Programação do Projeto Cinema é uma coisa Linda de 06 de junho

Diogo Braz
Em virtude do feriado de 07 de junho, a sessão do projeto Cinema é uma coisa Linda acontecerá, excepcionalmente, nesta quarta-feira, dia 06 de junho. A sessão também terá horário e local de exibição excepcionalmente diferentes desta vez: às 17 horas na Pinacoteca Universitária da UFAL.
Os filmes que serão exibidos são:
Todavia, de Alice Jardim; São Luís Caleidoscópio, de Hermano Figueiredo; Interiores ou 400 anos de solidão, de Werner Salles. Haverá também o debate "O olhar poético no documentário". 
Interiores ou 400 anos de solidão

Aproveitando a ocasião, os cineclubistas poderão visitar a exposição "Dobra", de Alice Jardim, que está em cartaz na Pinacoteca.
Um bom programa!