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sábado, 20 de agosto de 2011

Palavra Mínima: Poesia Musicada no Pandeiro e Emanuel Galvão

Pandeiro e poesia se unem para homenagear a palavra

Diogo Braz


      O som do pandeiro guarda uma identidade muito ligada ao poeta popular, aquele mambembe, que parece trazer os versos improvisados na ponta dos dedos. Dedos que, ao tocarem na pele esticada do instrumento, criam o ambiente perfeito para que uma rima se combine com outras e faça viva a palavra em poesia. Os temas do Nordeste, de uma realidade árida e cheia de esperança, parecem encontrar seu lugar junto ao ritmo percussivo, enquanto temas universais ganham uma dimensão particularmente nossa, diante de um som que faz questão de lembrar de onde viemos.




      Quando a banda Poesia Musicada no Pandeiro subiu ao palco do Espaço Cultural Linda Mascarenhas, dentro da programação do Projeto Palavra Mínima, todos esses elementos pareceram se encontrar: a poesia, a sonoridade nordestina, o ritmo do pandeiro, os temas de um universo particularmente nosso. Formada pelo performático Rogério Dias (vocal), Fagner Dübrown (pandeiro e voz), Gustavo Rolo (violão e voz), Tiago Franja (baixo) e Téo Batera (zabumba e voz), o grupo tem uma proposta que se assemelha muito à proposta do Projeto Palavra Mínima: trazer uma mistura de poesia e música, em uma linguagem nova, que não é canção, tampouco declamação: é poesia musicada no pandeiro, como o nome já diz!




         Os cinco rapazes, ,mais duas dançarinas, fizeram bonito. Rogério Dias e Dübrown, em especial, têm química excelente no palco, demonstrando uma conexão natural, como se fossem irmãos nessa arte. Rogério tem uma performance convincente: Declama poesia como quem faz isso há mais tempo do que realmente faz; pode-se sentir emoção na sua gesticulação e em sua voz estridente, típica dos cantadores de coco. Enquanto isso, Dübrown segura o ritmo com precisão, demonstrando conhecer o pandeiro como a palma da mão. O show transcorreu num ritmo interessante, dando espaço para as intervenções do poeta Emanuel Galvão.
        O universo dos versos de Galvão gira em torno das metáforas. Ele brinca com as palavras, dando-lhes sentidos diferentes num ritmo fluente de suas frases. Suas estrofes parecem ter sido feitas para a música, lidas ao som do violão de Gustavo Rolo, elas se adaptavam ao dedilhado com naturalidade. Galvão declamou poemas de seu primeiro livro, Flor Atrevida, que falam, em sua maioria, do amor sensual. Ele ficou contente com a interação com o público. “Para mim, a poesia não está só nos livros, ela está viva quando a gente a declama. É muito bom ver a reação das pessoas, quando a gente lê um poema! Eu fico vibrante com isso. Estou muito contente pelo convite que o pessoal da Poesia Musicada no Pandeiro fez para eu participar do Palavra Mínima, que é um projeto muito bonito. A Comusa, o IZP, estão de parabéns pela realização”.



        O economista Geraldo Barros, que estava na plateia, aplaudiu a iniciativa. “É um projeto muito válido, que nos mostra muitas riquezas culturais de Alagoas. As pessoas estão acostumadas a enxergar somente os aspectos negativos das coisas, e hoje nós pudemos ver o Rogério Dias cantando poesias que enaltecem o alagoano, que valorizam nossa cultura. Eu acho que a gente precisa disso, de espetáculos que nos lembrem de nosso valor”, pontuou.
         Para Sóstenes Lima, presidente da Cooperativa dos Trabalhadores de Música de Alagoas (Comusa), o projeto tem alcançado seus objetivos. “A proposta do Palavra Mínima é trazer essas duas linguagens, a música e a poesia, num espetáculo onde haja uma interação entre elas, onde haja uma experimentação nessa relação. A gente está observando que o público tem aprovado as apresentações e isso nos tem feito pensar sobre outras linguagens que podemos agregar ao projeto no futuro. Talvez o teatro seja uma linguagem que caiba bem nessa proposta. Ainda virá muita coisa pela frente”, adiantou.
         O músico Fagner Dübrown, da Poesia Musicada no Pandeiro, aprovou o formato. “A gente já vem trabalhando essa relação entre a poesia e a música há algum tempo e achamos que o projeto nos deu a oportunidade, hoje, de experimentarmos um pouco mais essa coisa de trazer a poesia pro universo da música, com a participação do Emanuel Galvão. Foi um prazer”, declarou o pandeirista.



         Esta edição do Palavra Mínima chegou ao fim deixando um sentimento bacana trazido pelo pandeiro e pelas palavras declamadas e cantadas, orgulhosas de seu sotaque alagoano.

* Fotos de Diogo Braz

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