Luiz Alberto Machado e Fátima Maia revivem dobradinha no Palavra Mínima
Diogo Braz
A cena parecia já ter acontecido: sobre o palco do Espaço Cultural Linda Mascarenhas estavam Luiz Alberto Machado e Fátima Maia, no papel de protagonistas de mais uma noite do Palavra Mínima, projeto do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP) e Cooperativa dos Músicos de Alagoas (Comusa), com apoio da Secult, FMAC, Mucom, Sebrae e Santorégano. É verdade que a dupla já havia se apresentado antes pelo projeto, mas apesar de semelhante, a cena agora traz uma pequena novidade: Se da primeira vez Luiz Alberto ficou responsável pela poesia e Fátima pela Música, desta vez, Fátima mostrou um pouco da sua produção literária e Luiz a sua produção musical.
| Luiz Alberto e Fátima Maia: dupla conhecida do público - Foto de Diogo Braz |
O ponto de interseção da carreira dos dois está no universo infantil: ambos desenvolvem um trabalho artístico direcionado às crianças e foi nesse cenário que a parceria se afinou, até que chegasse a duas edições no Palavra Mínima, sendo a segunda na noite de 02 de dezembro de 2011.
Fátima Maia é uma poetiza de versos com uma identidade nordestina muito forte, o que facilita ao público identificar-se com o que ela escreve. Fátima encontra inspiração no cotidiano, na sua visão de mundo e, talvez por estar habituada a trabalhar com a “contação” de histórias infantis, adquiriu um ritmo interessante para declamar seus versos adultos. Ela declarou se sentir mais à vontade nesta edição, no papel de declamadora. “Eu acho que fiquei mais solta dessa vez do que quando fiz as músicas, não foi? Eu achei maravilhoso, a reação do público foi ótima. Realmente eu não pensei nunca que estaria no palco fazendo minha poesia, e esse projeto é uma das poucas oportunidades para a gente mostrar nossa produção. Isso é super valoroso, eu fiquei maravilhada”, avaliou Fátima. A poetiza também pode mostrar um pouco do seu trabalho infantil, numa parte do espetáculo onde cantou/contou duas historinhas, nos moldes em que costuma fazer para os pequenos.
| Fátima Maia com os versos à mão - Foto de Diogo Braz |
Luiz Alberto subiu ao palco para mostrar a sua faceta romântica. Em mais de duas horas de música, Luiz cantou o amor, em suas diversas versões e pontos de vista e explicou que a escolha dessa temática tem, inclusive, uma função pedagógica. “Faz parte de um projeto, em que eu quero colocar a discussão do amor em outros parâmetros, porque a valorização do ser humano passa por essa contingência da delicadeza e pela condição do amor, pela forma do tratamento... As pessoas têm de ter a educação para ter uma vida a dois”, analisa Luiz Alberto. Apesar de recusar o rótulo de intelectual, o cantor produz uma música “cabeça”, cheia de referências ao pensamento de filósofos e antropólogos. “Novamente digo que é uma série de ‘amostramentos’”, brinca Luiz. “Hoje eu inventei de ser cantor e pude interpretar as minhas canções. Foi um momento muito lindo, e esse projeto que a Comusa e o IZP estão desenvolvendo nos dá a oportunidade de mostrar o nosso trabalho. É um acontecimento altamente importante”, avalia o cantor.
| Luiz Alberto em sua versão romântica - Foto de Diogo Braz |
O público parece concordar com esse raciocínio sobre a importância do projeto. O compositor Benedito Pontes acha que o Palavra Mínima é importante por ser uma oportunidade para descobrir talentos escondidos. “Alagoas tem dessas coisas: A gente tem os valores e esses valores não se tornam conhecidos, muitas vezes, por falta de oportunidade. Às vezes, eles se projetam até fora do estado, mas aqui... Hoje eu tive a chance de conhecer o trabalho da Fátima, que eu não conhecia, e foi uma grata surpresa. Esse projeto oportuniza que os talentos de Alagoas sejam conhecidos e que a nossa sociedade acorde para valorizar esses talentos. Eu saio daqui enriquecido”, elogiou. A pianista clássica Oriêta Feijó deseja que os artistas tenham o seu merecido reconhecimento “Eu fiquei sensibilizada por tudo que vi hoje. Gostei demais, o espetáculo me tocou bastante, espero que todos tenham muito sucesso pela frente”, torce.
Quem também aprovou foi o poeta cordelista Jorge Calheiros, que esteve presente prestigiando a dupla. “Eu já conhecia o Luiz Alberto, é um grande profissional, um artista, gosto muito das músicas dele. A Fátima eu conheci hoje e me agradei muito das poesias dela. Foi muito legal, pra mim foi ótimo, nunca mais tinha assistido um show pra gostar como esse de hoje”, elogiou.
| Público aprova mais uma edição do Palavra Mínima - Foto de Diogo Braz |
Engrossando a fila dos artistas na plateia, o músico Gama Junior elogiou o projeto. “É uma maravilha essa mistura de música com poesia, o que, na minha opinião, é uma coisa só. Isso traz muita paz pro ambiente, deixa todo mundo mais envolvido com a música, todos os elementos numa mesma harmonia. Foi uma noite divinal”, analisou. O músico Jurandir Bozo também se mostrou um incentivador do Palavra Mínima. “É um projeto importante porque abre mais um espaço para a arte autoral, já que a gente tem perdido esses espaços e eles são valiosos. A gente sabe que há um segmento alternativo que ainda tem um público formado por universitários e que busca esse universo do autoral, do criativo, da identidade local, mesmo que cosmopolita, então abre-se esse leque do alternativo. Mas a galera que faz uma música mais convencional e autoral fica meio sem espaço. Por isso, é muito importante trabalhar com essa música, a poesia e a poesia musicada; é um projeto formador de público e o caminho é esse: tem de se pensar projetos assim, para que eles sejam encaminhados por editais, por leis, pro Estado agraciar e abraçar essas iniciativas”, analisou Bozo.
Chegado o fim de mais uma edição, o projeto Palavra Mínima parece ter ganhado fôlego em sua reta final, restando agora dois espetáculos para seu desfecho, seguindo seu caminho bem sucedido até agora.


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